Não levem ao pé da letra. Usei uma metáfora. Na minha cabecinha romanticamente fértil, houve quase uma licença poética para traduzir um inquietante sentimento de inveja, quando não se deveria ter inveja. É apenas uma comparação, repito. Mais humor, por favor!?
Imagine se o seu vizinho, com o qual você não tem nenhuma proximidade e não troca nenhuma palavra além de “bom dia”, ganhasse na Mega-Sena? Você ficaria feliz, é claro! Desejemos o melhor ao próximo, sempre. Mas, lá no fundinho, viriam aqueles pensamentos intrusivos: “O que ele tem que não tenho?” “ Por que não eu?” Perdão, Deus.
O vizinho, no caso, é aquele do outro lado da Almirante Barroso. O clube que ostenta uma fase encantada na qual os sinos tocam, os passarinhos cantam, a cada gol marcado. O vizinho afortunado é o Clube do Remo. Filho da dona Glória e do seu Triunfo. O vizinho que viveu anos de ostracismo e dívidas, no passado, mas virou o novo rico da vez.
Como jornalista esportiva, eu deveria estar comemorando o esplendor azulino. Racionalmente, estou em êxtase. Mas a pindaíba do meu amado Paysandu, lutando desesperadamente contra o rebaixamento, em contraste com o rival, nadando em bons resultados e cifras polpudas, faz esse bichinho chamado inveja me cortar a alma em pedaços. Em 33 fatias?
Além do abismo que separa os dois times na classificação da série B ( Remo entre os primeiros e Paysandu lá embaixo, sem saber o que é vitória ), o vizinho rico esnoba o rival em números extra campo. A lua de mel com a torcida fez o Remo chegar aos 8 mil sócios, enquanto o Paysandu não chega a 5 mil.
A folha salarial azulina é quase o dobro da bicolor. Um dinheiro que vem sendo investido em um plantel de qualidade, com destaque para Pedro Rocha, artilheiro da série B. Em mais de 30 anos de carreira, eu vos afirmo: não lembro da última vez na qual vi uma diferença tão abissal entre os elencos de Remo e Paysandu.
Importante destacar que o Remo não “enriqueceu” por acaso. A boa fase financeira é fruto de um trabalho meticuloso de saneamento das dívidas, iniciado pelo ex-presidente Fábio Bentes. Nem a saída do técnico Daniel Paulista, para o Sport Recife, abalou as estruturas do clube. Como um bom time “ryco”, o Remo já especula nomes como Eduardo Batista e Maurício Barbieri.
Hoje, o vizinho rico da Almirante Barroso esbanja as maiores fortunas de um clube de futebol: vitórias e organização financeira. Na última semana, veio a cereja do bolo de dinheiro: o Remo anunciou Marcos Braz, ex vice-presidente do Flamengo, como seu executivo de futebol.
Braz precisa fazer bonito no Leão, seu primeiro clube como executivo, como questão de honra. Com seu nome de peso e credibilidade no mercado da bola, seguramente irá trazer bons negócios ao Leão. Leia-se, jogadores que irão fazer a diferença em campo. Mais ainda.
Por aqui, do lado em tempestade da Almirante Barroso, sigo conformada com a sorte grande do vizinho. Mais ainda, arrisco a profecia: o Clube do Remo irá subir aos céus da série A. E, parafraseando Nelson Rodrigues, se os fatos ficarem contra mim, pior para os fatos.