Mariana Sanches, em artigo para a BBC News Brasil neste sábado, 16, falou sobre a visita de Joe Biden a Manaus no próximo domingo, 17.
A visita o consagrará o primeiro presidente em exercício dos Estados Unidos a pisar na Amazônia brasileira na história de 200 anos de relação entre as duas nações.
Para Sanches, em termos práticos, a viagem representará pouco para a floresta e para quem vive nela. A visita amazônica deve ser um desfecho simbólico para um enredo de desacertos na pauta ambiental e climática entre Lula e Biden.
Ainda em sua campanha para a presidência em 2020, Biden deixou claro que o combate às mudanças climáticas seria um tema central em sua gestão. E usou episódios de graves incêndios na Amazônia meses antes para alavancar sua imagem de líder ambiental internacional.
"Eu começaria imediatamente a organizar o hemisfério e o mundo para prover US$ 20 bilhões [R$ 116 bilhões] para a Amazônia, para o Brasil não queimar mais a Amazônia", prometeu Biden durante um debate televisivo com Donald Trump.
Já o então governo Bolsonaro queria que os americanos se comprometessem a destinar US$ 1 bilhão (R$ 5,8 bilhões) por ano à Amazônia brasileira de saída, sem que o Brasil apresentasse resultados de redução de desmatamento de antemão.
Segundo a BBC, embora as conversas com o governo americano tenham se seguido até o fim do governo Bolsonaro, nenhum dinheiro jamais foi liberado nesse período.
Lula se elegeu prometendo promover o oposto da agenda de Bolsonaro em relação ao meio ambiente. Em abril de 2023, Biden pareceu cumprir sua promessa: anunciou que os americanos pretendiam remeter US$ 500 milhões (R$ 2,9 bilhões) ao Fundo Amazônia, divididos em cinco anos. Mas, na verdade, o envio dos recursos dependia de aprovação do Congresso.
“Agora com a vitória de Trump, sabemos que as questões de meio ambiente estão fora do jogo. É remoto que vejamos qualquer dinheiro para o Fundo Amazônia”, afirmou à BBC News Brasil um embaixador brasileiro com conhecimento direto das negociações.
Ao menos quatro diplomatas brasileiros e democratas ouvidos reservadamente pela BBC News Brasil, concordaram que a vinda de Biden à Amazônia no apagar das luzes de seu mandato é o que os americanos costumam chamar de “too little, too late”, “muito pouco, muito tarde”, na tradução literal.
Créditos da imagem: Ricardo Stuckert/ Presidência da República.