Igor Normando supera obstáculos mas tem uma fogueira pela frente

A caminho do sexto mês como prefeito de Belém, o emedebista Igor Normando já sentiu dores e provou delícias típicas do cargo. De cara, viveu momentos de glória ao ganhar a eleição a bordo de uma coligação inédita, que reuniu dez partidos, com quase 100 mil votos de diferença sobre o adversário Éder Mauro.
Em seguida, assumiu a prefeitura com o apoio de uma bancada de peso, que reúne mais de dois terços da Câmara, restringiu a oposição a meia dúzia de adversários e pavimentou a ousada reforma administrativa sem tirar nem pôr. Além disso, Igor segue abraçado pelo “padrinho”, o governador Helder Barbalho, que divide com ele e a vice-governadora Hana Gassan os louros da COP30 em Belém, enquanto louros há.
Mas nem tudo é azul como o Palácio Antônio Lemos. Neste pouco tempo, Igor já foi fustigado por servidores da Prefeitura, professores da rede municipal e até motoboys, em protestos barulhentos. Professores e demais servidores estão cobrando aumento dos salário defasados. Motoboys denunciaram abusos na fiscalização da recém-criada Secretaria Municipal de Segurança, Ordem Pública e Mobilidade de Belém.
Dois episódios recentes ameaçaram o céu de brigadeiro do prefeito, mas foram contornados com habilidade. Primeiro foi a extinção do Bora Belém, programa de transferência de renda que atendia a mais de 18 mil famílias e custava R$ 5 milhões por mês. Como foi proposta pelo vereador Zezinho Lima (PL), que não é da base aliada, bastou ao prefeito se fingir de morto (ele poderia ter vetado), deixando o ônus para a Câmara.
O segundo foi o reajuste na tarifa de ônibus. Igor prometeu, na campanha, que resolveria os problemas do transporte público em Belém sem aumentar a tarifa. Mas nem precisou morder a língua ao anunciar o reajuste de R$ 4 para R$ 4,60. Saiu do episódio bem avaliado e colocou a culpa no ex-prefeito Edmilson, um aliado das urnas que na primeira oportunidade virou desafeto.
“Acabamos de fechar um acordo para viabilizar a passagem de ônibus a R$ 4,60. Esse é um valor menor do que o acordo feito pela gestão anterior, que previa a passagem a R$ 5, e muito inferior ao que queria o Setrans-Bel, R$ 5,80”, disse Igor.
O prefeito ainda tirou proveito da situação, anunciando catraca livre aos domingos e feriados e a imediata circulação da frota nova, com ar-condicionado e wi-fi, os chamados “geladões”. E foi pra galera...
Nas redes sociais, que viraram um termômetro de popularidade da era digital, Igor Normando vai bem, obrigado. Nascido em 1987, o jovem prefeito é um típico representante da geração “milenial”, um nativo digital com a tecnologia presente no cotidiano. Sua popularidade nas redes sociais, medida por métricas como seguidores, curtidas e compartilhamentos, está em alta.
Não por acaso, desde que assumiu, Igor multiplicou por quatro o número de seguidores no Instagram, por exemplo, com mais de 212 mil atualmente. Não chega nem perto do seu patrono Helder Barbalho (939 mil), mas é quase o dobro dos seguidores da aliada e vice-governadora Hana Gassan (118 mil) e do inimigo Edmilson Rodrigues (112 mil). São 8 vezes mais seguidores do que tem o ex-prefeito Zenaldo Coutinho.
É sempre bom lembrar, porém, que a boa performance nas redes sociais é um bom termômetro, mas não é uma panaceia, palavra de origem grega que significa a cura para todos os males. Igor terá de enfrentar na Justiça, e não no Instagram, um pelotão de insatisfeitos com os rumos da reforma do Mercado de São Brás, por exemplo.
De um lado, a judicialização deverá ser feita pela Organização Social Amazônia Azul, comandada por Paulo Uchoa, um operador político ligado ao ex-prefeito Edmilson Rodrigues. A OS, escolhida na gestão do PSOL e defenestrada pelo prefeito emedebista, quer o negócio de volta e vai brigar por isso.
De outro lado, estão os 191 permissionários que amargaram dois anos de perdas, ao serem alocados numa feira provisória com temperatura infernal e nenhuma visibilidade nem equipamentos dignos, mas querem seu status de volta no mercado centenário.
Mesmo com a disposição do prefeito de conversar com os permissionários tradicionais, a reforma do Mercado de São Brás tem todas as características de uma gentrificação. Aquele fenômeno em que a revitalização de um lugar antes ocupado por pessoas de baixa renda abre caminho para o domínio de quem tem maior poder aquisitivo e praticamente expulsa os pobres ocupantes originais.
Nesse enredo recheado de conflitos, equívocos e atrasos (o mercado deveria ser entregue em setembro de 2024, só foi inaugurado em dezembro, mas até hoje não está concluído), o prefeito de Belém está em um fogo cruzado que vai exigir muito mais do que um pelotão de seguidores e seus coraçõezinhos.
Créditos da imagem: Agência Belém