A notícia
A cantora gospel Aymeê Rocha, 27 anos, nascida em Belém e radicada na
cidade de Redenção, no Sudeste paraense, compôs uma música, "Evangelho de
Fariseus", que viralizou por todo o país.
Reality e viral
A origem da
"viralização" foi o local e a maneira como Aymeê mostrou a canção: um
Reality Show gospel tipo The Voice Brasil, chamado Dom Reality, no qual a
paraense foi uma das finalistas. Exibido no canal do YouTube EAD UniCesumar,
após a apresentação em 15 de fevereiro, a cantora passou de um milhão de
seguidores no Instagram.
Letra
"Enquanto isso no Marajó, o João
desapareceu;
Esperando os ceifeiros da grande seara;
A Amazônia queima / Uma criança morre;
Os animais se vão;
Superaquecidos pelo ego dos irmãos
Um Evangelho de Fariseus".
A quem interessar possa
"Marajó é uma ilha a alguns minutos de Belém, a minha terra. Lá tem
muito tráfico de órgãos, lá é normal. Lá tem pedofilia em 'nível hard'. As
crianças com cinco anos, quando elas vêm um barco vindo de fora com turistas –
Marajó é muito turístico e as famílias são muito carentes –, as criancinhas
saem em uma canoa, seis, sete anos; e elas se prostituem no barco por cinco
reais", disse a cantora, após se apresentar, para os jurados.
Hipocrisia
Segundo Aymeê, "Evangelho de
Fariseus" foi composta com o
objetivo de alertar para a hipocrisia da Igreja em relação ao assunto, o
descaso com as crianças marajoaras e por todo o país.
Crítica e "terceirização"
No final de sua fala, a paraense disse ainda aos jurados que há uma apatia da
população brasileira diante da calamidade pública abordada. "Jesus me fala
que às vezes nós, cristãos, terceirizamos muito para o governo o que é de
responsabilidade nossa, como cristãos".
Tudo verdade
Ainda que ela não tenha dito nenhuma mentira sobre um problema gravíssimo e
histórico, e apesar de toda a repercussão que a sua "música protesto"
tenha causado, Aymeê não vencera o reality. Pelo menos naquela seara a canção
não contaminou o debate, no caso uma competição.
Assunto da semana
Para além dos "muros" da disputa musical, o assunto repercutiu
por todas as redes sociais, gerou debates e discussões, uma infinidade de
buscas no google, foi um dos temas mais comentados na rede X, dominou a
curiosidade da população brasileira e foi, sem dúvida, a notícia produzida em
âmbito nacional mais comentada da semana.
Cabrini
Neste sábado, 24, ainda na esteira da música de Aymeê, vazaram imagens de uma
conversa ríspida entre Roberto Cabrini e um outro homem, sobre filmagens que a
sua equipe teria realizado no Pará a caminho do Marajó.
Matéria
A Rede Record mandou seu principal repórter investigativo para o local com
vistas a produzir matéria sobre abuso e exploração sexual de crianças, tema
central da música composta pela paraense.
Consequências
Famosos repercutiram a denúncia de Aymeê, alertas e campanhas foram
anunciadas e o debate chegou na igreja e na política, pois, não esqueçamos,
ambas foram citadas pela cantora na música, além da omissão da sociedade e sua
mania de terceirizar.
Exploração
Mas foi na política que a música de protesto ganhou ares de farsa e
proselitismo. A senadora Damares Alves a compartilhou e foi seguida por muitos dos seus adeptos. Ato contínuo, um vídeo falso denunciando a exploração de menores na
ilha também foi usado pelos bolsonaristas.
Uzbequistão
A turma do ex-presidente é acusada de usar imagens produzidas no Uzbequistão, a dezenas de milhares de
quilômetros do arquipélago, em 2023, na cidade de Bukhara. Na oportunidade, uma
professora foi autuada por direção perigosa, quando transportava mais de duas
dezenas de alunos em seu carro.
Resposta
Na sexta-feira, 23, com a repercussão da manifestação de
Aymeê e os desdobramentos entre o bolsonarismo, o ministro de Relações
Institucionais do governo Lula, Alexandre Padilha, publicou um vídeo criticando o que chamou de
"acusações generalizadas". Ele reconheceu a gravidade do tema,
criticou a senadora Damares Alves e a proliferação de vídeos fakes.
O fato
O abuso e a exploração sexual de menores são fatos de notório conhecimento
no Brasil desde, pelo menos, meio século. Somente no arquipélago, o bispo
emérito do Marajó, Dom José Luiz Azcona, denuncia a questão há mais de três
décadas.
Pobreza
A região convive com o flagelo e campanhas se sucedem promovidas por governos estaduais e o federal, os Ministérios Públicos em mesmo âmbito, as polícias locais e as organizações da sociedade civil que atuam no combate aos crimes dessa natureza.
Piores IDHs
Historicamente, desde que o índice foi aplicado na área do arquipélago conhecida como "Marajó da floresta", estão localizados ali municípios com alguns dos piores IDHs do Brasil.
Tráfico
No Brasil, o que se imaginar em matéria de atuação do crime organizado, do tráfico de drogas, de órgãos, crianças e animais silvestres; contrabando, desmatamento ilegal, abuso, estupro e exploração de vulneráveis, tem precedente na região.
Indicadores
Num país contaminado pelo fosso da divisão com origem na polarização
política, onde tudo é politizado e, no qual um dos líderes, no caso o atual
presidente da República, atiça sua grei falando em "nós contra eles",
cumpre aos jornalistas fazer uma cobertura fundamentada em fatos e indicadores
honestos, tanto sobre a situação, quanto em relação aos resultados de políticas
públicas implementadas nas três esferas de poder sobre a questão.
Lado
O lado certo nesta e noutras questões deve ser focado somente nessa
dualidade: fatos e indicadores. Se há políticas públicas no caminho certo,
palmas aos atores envolvidos e que elas se espraiem. Se tem omissão ou piora do
quadro, que se apresentem os dados e soluções ante as complexidades e
encerrem-se práticas que não deram certo.
Aymeê, as feridas e uma chance
A jovem evangélica perdeu o reality, mas roubou a cena. Como cidadã, ao
cutucar na ferida seus concidadãos para que saiam da zona de conforto de só
criticar e passar a agir contra o estado de coisas que denunciou, fez seu papel
de cidadã ganhar protagonismo.
Cada um no seu quadrado
Agora é a vez das ONGs, dos religiosos e demais autoridades, personalidades que
compraram a briga e os moradores do Marajó, que devem fazer a sua parte,
aproveitando a oportunidade e a repercussão que gerou.
Lula, a eterna vítima
A notícia sobre o Marajó diminuiu outra repercussão que movimentou as redes
sociais e a imprensa antes da questão marajoara: a declaração de Lula sobre o
conflito em Gaza, quando comparou a reação de Israel ao terrorismo do Hamas com
o Holocausto. Além de não se retratar, o presidente brasileiro culpou quem o
criticou fazendo o seu melhor personagem, aquele que tanto já lhe rendeu: o de
coitadinho, alvo de preconceito pela origem e vítima da burguesia e da
sociedade rentista…
"Guerra cultural", imprensa e
delinquência
Integrantes da chamada "guerra cultural" travada com os
bolsonaristas, e formada do lado petista por acadêmicos de USP, Unicamp, UFRJ,
UnB, et al; militantes encastelados no governo, na imprensa e esgotosfera; na
esquerda e sindicalistas em geral; prosélitos, vendidos, comprados, além dos áulicos e bajuladores de sempre, saíram em sua defesa e das suas palavras,
espalhando infâmia, antissionismo e antissemitismo pelos quatro cantos do Bananão.
Já era o Nobel
Como Lula pôde perceber, pior que ter seu nome associado negativamente à
infâmia que falou, em 90% das citações pela internet mundial, líderes do
Ocidente em peso que trataram dela, a fala asquerosa, demonstraram (mais uma) decepção e ojeriza que
merecia. Pelo visto, ele vai ter de gastar muita saliva, dinheiro e a nossa
paciência, em busca da sua obsessão por ser laureado com Nobel da Paz. Só que não.
Suspeitos
Se o Hamas afirma que dez mil crianças já morreram em Gaza, vítimas da
contraofensiva de Israel após o mais covarde ataque terrorista desde o 11 de
setembro, e o mais letal contra o povo judeu após o Holocausto, é fato que
devemos crer em cerca de 10 ou 20% disso. Ainda que uma única delas seja uma tragédia pela qual o grupo é o responsável.
Culpados I
Cumpre repetir: ao atacar covardemente a população civil israelense no
dia 07 de outubro de 2023, os bárbaros, radicais, assassinos, estupradores e
psicopatas do grupo terrorista são, indiretamente, os responsáveis pela
tragédia, pois foram eles que
iniciaram unilateralmente o conflito.
Culpados II
Da mesma forma que também são, na maioria dos casos, os responsáveis diretos
pela tragédia que é a morte de cada inocente civil, criança, adulto ou idoso,
na medida em que os utilizam como escudos humanos e em túneis cavados abaixo de
hospitais e demais áreas civis.
Paulista e prisão
Enquanto isso em Gotham City, ops, São Paulo capital, o líder de todos os
bolsonaristas, Jair, espera reunir mais de uma centena de milhares de
simpatizantes neste domingo, 25, na Avenida Paulista.
Véspera
O ato que, para muitos será seu último gesto de impacto político precedendo
uma prisão quase iminente "pelo conjunto da obra" e, sobretudo, pela urdidura de um golpe de estado após a derrota eleitoral de
2022.
PS: Os fariseus surgiram no século II (a.c.) e se tornaram o grupo mais
poderoso na época de Jesus. Devotos do Torá,
eles
criaram a sinagoga e uma "lei oral", que passou a existir junto à lei
escrita. Eram
rígidos e obedientes a essas tradições a tal ponto, que as consideravam ainda
mais importantes do que as palavras dos profetas, incluído o próprio Messias, o
Cristo.