Meu Rio,
A chegada oficial do inverno de 2024, em 20 de junho, ficou marcada pelo final de um outono que já deixou saudade para moradores e turistas de passagem por aqui, eterna Cidade Maravilhosa.
A soma de um fenômeno característico da estação preferida do “carioca raiz” causado por ventos que sopram do mar em direção ao continente e a estiagem das últimas semanas tornou as águas das tuas praias límpidas, causando comparações com a cristalinidade, o tom esmeralda e a balneabilidade do mar do Caribe.
Ame-o ou deixe-o
As últimas décadas te tornaram temido e cenário da tomada de poder por grupos criminosos, indicadores de violência assustadores e políticos mal afamados para além da normalidade nacional, culminando na prisão, afastamento e condenação de ex-governadores acusados de variados tipos de crimes, sempre com fulcro em corrupção e malfeitos capazes de afastar turistas, investidores e conspurcando tua condição e reputação de ser uma das mais atraentes e belas metrópoles em todo o globo terrestre.
Tudo aqui é superlativo; Copacabana é uma das praias mais famosas do mundo. Com “Garota de Ipanema”, a vizinha dela se tornou mundialmente conhecida por meio da Bossa Nova e da canção brasileira mais gravada no planeta.
Some-se o antigo Maracanã, que era o maior estádio do mundo, com recordes de público jamais batidos e tantas outras atrações e histórias de glamour e sucesso.
Tiveste a tua era de ouro no pós-guerra, quando astros e estrelas de Hollywood vinham se apresentar e participar de eventos, bailes e que tais no Copacabana Palace e tantos outros acontecimentos marcantes na tua história.
A criação de Brasília e a decadência da cidade
Palco de fatos como a Proclamação da República, a revolta dos 18 do Forte, o suicídio de Getúlio Vargas e o comício da Central do Brasil, que seria o gatilho para o Golpe Militar de 1964, viste a tua importância diminuir com a transferência da capital para Brasília.
Na mesma década de 1960, com o bicampeonato mundial de futebol no Chile, o Cinema Novo e a consagração mundial da Bossa Nova, viveste o fim da tua era de ouro em alto estilo.
Vieram as décadas seguintes e tudo mudaria, com reflexos e consequências que nem as realizações da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016 conseguiriam mitigar.
Rio, meu amor
Dito isso, fica aqui uma declaração de amor eterno a ti e aos teus encantos sem fim. Quando pousei no Santos Dumont, na última quarta-feira, 19, após um intervalo que ainda me recuso a acreditar e me deparei com os atributos a ti doados pelo Criador, Pai do Cristo Redentor, meus olhos lacrimejaram me fazendo lembrar dos meus poucos mais de 9 anos quando, finalmente, aqui estive pela primeira vez no mítico verão de 1982.
Essa alegria da minha alma talvez assim se manifeste em razão de uma questão espiritual, metafísica ou um amor fruto da tua beleza avassaladora e da realização do sonho infantil daquela criança que amava um herói fora do seu eixo familiar e um clube de futebol.
Ou, quem sabe, pelo fato do meu pai estar se transferindo para cá quando do meu nascimento, mas cuja vinda fora abortada.
Enfim, ainda não consigo entender as razões e, provavelmente, nunca irei conseguir. Mas o fato é que meu coração e espírito te amam como se fosses única no mundo. Aliás, és!
Sim, a vida me proporcionou viajar, amar minhas raízes, ser profundamente apaixonado pela minha terra natal e gostar bastante de algumas outras cidades, mas, igual a ti, Errejota, nada se compara. Nada.
Depois de Zico e o Flamengo, vieram a turma do rock dos anos 80, Paulo Francis, Millôr, Ivan Lessa (paulista criado aqui), Tom Jobim, Vinicius de Moraes, Machado de Assis, Euclides da Cunha, Lima Barreto, Carlos Lacerda, Jô Soares, Fernanda Montenegro…
… E os filhos ilustres que te adotaram como este reles mortal, tipo Nelson e Mário Rodrigues Filho, Otto Lara Resende, Dorival Caymmi, Roberto Campos, Chico Anysio, João Gilberto, Ricardo Amaral, Boni, Elio Gaspari, Ruy Castro e outros gurus e craques da bola e da vida que a memória agora me trai e vou esquecer, além de todas as tuas musas e divas.
Fica aqui o registro e a homenagem neste “veranico” de 2024 de quem sempre vai te amar, apesar das vicissitudes e daqueles que têm contribuído para essa malfadada decadência e esvaziamento político-econômico que sempre vou me recusar a aceitar. Jamais aceitarei!
Poderia passar horas escrevendo outras razões desse amor infante e pensar em várias músicas pra te homenagear, mas fico com um trecho só de “Samba do Avião”, canção que o maestro soberano fez pelos teus céus quando retornava de uma longa temporada (como eu agora) longe de ti.
“Rio, teu mar, praia sem fim; Rio, você foi feito pra mim”.
Com todo meu amor sem equiparação,
Sempre teu e para sempre teu,
TR.
Fotos: reprodução redes sociais
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