A angústia de um fuleiro na marca do pênalti

Foi dada a largada. Sejam feitas as apostas. Que rufem os tambores. Aliados e adversários finalmente concordam numa coisa, ao prever o futuro do ex-presidente Jair Bolsonaro. Tudo indica que o Messias da direita, o Capitão dos conservadores, o imbrochável da Michele vai mesmo parar no xilindró, como se diz na caserna - o hábitat de onde ele saiu, mas que nunca saiu de dentro dele.
Tanto os mais entendidos dos caminhos da lei, como os pretensos conhecedores dos destinos alheios, estão apostando que a casa de Bolsonaro vai cair em outubro. A contagem regressiva, segundo juristas e pitonisas, começou com o depoimento do ex-presidente ao ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, transmitido ao vivo na terça-feira, 10. Ainda que a sessão tenha frustrado quem esperava ver um capitão raivoso e um ministro vingativo.
Aconteceu o contrário. Naquela tarde, o ministro, que já foi chamado de “malvado favorito” da esquerda, surpreendeu pela cordialidade, ao conduzir o interrogatório de mais de duas horas em tom moderado, pontuado por inesperados momentos de descontração. Em certa hora, Bolsonaro sentiu-se à vontade para perguntar se podia fazer uma brincadeira com Moraes. Sem perder o tom amistoso, o ministro respondeu: “Eu perguntaria para os seus advogados antes”.
Por outro lado, o ex-presidente Jair, que já xingou Moraes de “canalha” em manifestação pública e acusou o ministro do STF de receber R$ 50 milhões para perverter a eleição de 2022, vestiu a pele de cordeiro. Pediu desculpas duas vezes por ser falastrão e ter um temperamento explosivo, chamou os fiéis bolsonaristas de “malucos” e negou a intenção de dar um golpe. Mas admitiu que buscou uma solução, “dentro das quatro linhas”, para virar o jogo depois da derrota.
Pegando corda do pessoal que aposta em outubro como o mês da prisão, tenho duas sugestões. A primeira é para o time dos bolsonaristas. Sim, os “malucos”, como disse o próprio Capitão. Peguem-se com Nossa Senhora de Nazaré. Esqueçam os influencers, os marqueteiros do lado B, o gabinete do ódio. Vão na fé. Segurem a corda, peçam perdão, arrependam-se. Isso inclui os evangélicos, porque o Círio é ecumênico e o sangue de Jesus tem poder. Mas nada daquele negócio de “Deus, Pátria, Família”, porque isso lembra os raivosos integralistas de extrema direita. Nazica é da paz.
A segunda sugestão é para quem tem fé prisão de Bolsonaro. Sejam mais rápidos que os adversários e celebrem na véspera do Círio a condenação do Capitão. Basta sair da Trasladação direto para o Bar do Parque e promover a melhor edição de todos os tempos da Festa das Chiquitas. Uma edição especial, em que será celebrada a derrota da intolerância, da indelicadeza, do racismo e da homofobia. E eu estarei lá, para lançar o pocketbook “Bolsonário. O dicionário de bolso de um presidente salafrário”.
Não será lindo?
PS:
“Fuleiro”, segundo o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, é aquele que não é digno de confiança, é considerado reles e revela falta de requinte. Vem do espanhol fullero, que significa trapaceiro, vigarista, batoleiro.