Em março de 2021, o Brasil viveu a parte mais letal da
pandemia da Covid-19, quando morreram em média mais de quatro mil brasileiros
nos piores dias que antecederam o novo lockdown declarado em Belém. Uma
tragédia.
Edmilson Rodrigues, por sua vez, dava início a sua terceira passagem pela Prefeitura Municipal de Belém (PMB) mantendo a velha parceira de polêmicas e prestações de serviços milionários, a Terraplena Ltda., conforme atestam comprovantes de pagamentos da Secretaria Municipal de Saneamento (Sesan) em posse de O Amazônico.
440 milhões
Enquanto para as pessoas comuns a vida impunha desafios
nunca dantes enfrentados, os donos do poder se refestelavam amparados em
contratos que jamais findavam, uma Câmara de Vereadores que parecia não
fiscalizar os destinos e aplicação dos recursos municipais e a maioria absoluta
da população da capital paraense obrigada a conviver com serviços precários e
ineptos quando o assunto era limpeza urbana.
Pior: em meio a maior catástrofe sanitária mundial em mais de 100 anos e sujeira por todos os lados, acúmulos de lixo em cada esquina, descaso, mau cheiro, canais entupidos, ruas danificadas, buracos que não acabavam mais responsáveis por avarias em suspensões, pneus estourados, provocando a ira de condutores e pagadores de IPTU e ISS revoltados.
Enquanto isso, a ubíqua empresa que se tornou nacionalmente conhecida na Operação Plenitude, desbaratada pela Polícia Federal (PF), seguia, desde sempre, lucrando e recebendo regiamente os seus milhões de reais em dia e passando por cima de qualquer prioridade ao longo dos doze meses daquele ano.
Ao cabo e ao fim de 2021, a Terraplena Ltda faturou cerca de quatrocentos e quarenta milhões de reais. A fábula de dinheiro rendeu, em média, algo em torno de 36 milhões de reais por mês à empresa.
Era só o início do que vinha por aí nos anos seguintes, até culminar na famigerada "crise do lixo", que se estenderia por todo o ano de 2023, quando a cidade quase colapsou em sua coleta e destinação do lixo urbano, uma licitação onde o consórcio em que a Terraplena Ltda. estava associada sairia liminarmente vencedor, enquanto seus concorrentes o judicializavam justificando motivos vários para o cancelamento do seu resultado.
Cadê o (meu) dinheiro?
A pergunta que não quer calar é: a população que sofre as
consequências da inépcia do poder público municipal na manutenção da limpeza,
pavimentação asfáltica e destinação dos resíduos sólidos descartados
diariamente está satisfeita com a associação entre o executivo municipal e as
empresas por ele contratadas?
Resposta: a considerar o desempenho do candidato do prefeito anterior e a rejeição do atual, é óbvio que não. E mais: O sócio da Terraplena alvo de mandado de busca e apreensão em 30 de abril, Everton Pereira de Carvalho Jr., foi acusado por uma fonte de O Amazônico de arrotar aos quatro cantos sobre os perfis de "esquerdistas"a quem costumava corromper justificando com as seguintes frases:
"Bom mesmo são os 'cubanos’. Eles são ‘profissas’. É tudo cash, nada de presentinhos caros e mimos recorrentes", seria quase um mantra atribuído a si.
Com efeito, tendo sido empenhados e pagos algo em torno de 440 milhões de reais somente em 2021 pela PMB (Sesan) à Terraplena Ltda, dado ao desmantelo quase colapsante da cidade, e em meio ao caos urbano e a convivência com lixo a céu aberto, a cifra começa a ganhar contornos e especulações sobre "margens de lucros"...
Todavia, tal e qual nas últimas quase quatro décadas, enquanto a popularidade e aprovação do prefeito decrecia inversa e proporcionalmente a sua rejeição cada vez mais alta, os anos de 2022, 2023 e 2024 confirmariam a preferência da PMB pelos préstimos da companhia acusada de participar de desvios que somam 1,7 bilhão pela Operação Plenitude, e de faturar montantes bilionários em meio a serviços prestados cada vez mais precários. Um escárnio.
Perguntas
O senhor leitor e a estimada senhora leitora estão
satisfeitos com os serviços de limpeza pública urbana municipal, descarte e
destinação dos lixos e dejetos espalhados por Belém?
Acreditam no preço do "ticket médio" pago pela PMB para esta malfadada e mal cheirosa coleta?
Conseguem imaginar a aplicação dos bilionários recursos municipais, advindos do pagamento de impostos, sendo destinados pela média nacional e, tão importante quanto, que esteja havendo fiscalização sobre essa destinação à altura do montante e da natureza da sua origem?
Falta muito
A verdade é que faltam explicações. Falta transparência.
Falta vontade política. Faltam vereadores dispostos a investigar essa caixa
preta.
E mais: faltam medicamentos, médicos, enfermeiros, garis, limpeza, respeito e toda sorte de insumos, leitos e atendimento digno e disponível.
O que sobram é a crença na impunidade, na cara de pau e no cinismo que cora anêmicos enquanto a falta de vergonha na cara de políticos e gestores que mereçam o voto e a confiança da população é o que abunda desde aquele ano.
Que não faltem o encerramento das investigações no âmbito da "Plenitude", a responsabilização dos culpados e a esperança dos belenenses.
E que em outubro, faltem os votos necessários para reeleger este prefeito cuja administração é o retrato do mais perfeito desastre.
E ainda faltam 2022, 2023 e 2024…