A pouco menos de oito meses do início da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, a COP-30, não são poucas as incertezas e dúvidas se, para o grande fiador da escolha de Belém, o presidente Lula, o evento trará um saldo positivo política, interna e internacionalmente ao cabo e ao fim da sua realização em solo brasileiro e na capital paraense.
Com efeito, o anfitrião regional, o governador Helder Barbalho, tem diante de si desafios que não são poucos, como atrasos em obras, overbooking quanto às hospedagens e acomodações, a capacidade do aeroporto local e seus serviços aeroportuários, entre outros menos votados.
Mas o saldo da escolha da outrora Metrópole da Amazônia, os investimentos federais bilionários na cidade que ainda é um canteiro de obras, tudo isso soa muito mais favorável a si do que ao seu grande aliado.
Lula e os riscos
Um dos maiores riscos, senão o maior que o petista corre, é a conferência terminar e, em razão sobretudo do boicote trumpista que se avizinha, não haver nenhum avanço concreto no enfrentamento das mudanças climáticas, razão de ser de todas as COPs.
Entraves
Como tem alertado o veterano colunista de economia Celso Ming, o iminente enfraquecimento da cooperação internacional que se segue à ausência de debates das autoridades norte-americanas - um dos maiores poluidores do mundo -, é, talvez, o principal entrave para que haja resultados efetivos de mais esta edição, tal qual a de 2024, em Baku, capital do Azerbaijão, país localizado no Cáucaso, entre o Leste europeu e a Ásia Ocidental, onde nada se conseguiu de efetivo e positivo.
ONGs x lobistas
Em sua coluna no Estadão, Ming lembrou outro entrave que causa desconforto no discurso petista reproduzido aqui por Marina Silva, ex-estrela do partido e eterna queridinha da causa ambiental, e ali pelo próprio Lula, a depender da plateia.
Escreveu o colunista que, em 18 de março último, 260 ONGs enviaram uma carta ao governo federal pedindo o fim de uma hipotética influência de grupos de pressão - lobistas -, do setor de óleo e gás (combustíveis fósseis) durante as discussões na conferência.
Editorial e desconfiança
A última edição da Science, considerada uma das mais importantes revistas científicas do mundo, afirmara em editorial que a maioria das políticas do governo Lula foi responsável por ações que aumentaram as emissões de gases poluidores.
Internamente, quase concomitantemente, o prestigiado Instituto Imazon registrou o aumento de 68% do desmatamento em janeiro de 2025, se comparado ao mesmo mês do ano anterior.
Marina Silva enfraquecida
Seja pela questão do licenciamento das prospecções na chamada “Margem Equatorial”, pela inação ou aparelhamento do Ministério e de autarquias como o Ibama e o ICMBio, Marina Silva é considerada uma ministra enfraquecida que não consegue promover “ações efetivas”.
Sobre isso, o próprio Ming também escreveu, como prova, a última “Contribuição Nacionalmente Determinada”, (NDC) em inglês, da alçada do seu ministério, e que se trata do compromisso que define metas para redução das emissões de gases de efeito estufa, que foi considerada “fraca e destituída de ambição”.
Planejamento zero
O colunista lembrou ainda a falta de planos de ação para prevenção e controle do desmatamento do Pantanal e da Caatinga, apresentados somente em dezembro de 2024, na metade do governo, após os dois biomas terem sido fortemente castigados desde o início do Lula 3.
Outra questão que chama a atenção do distinto público, alertou Celso Ming, disse respeito ao fato do presidente da Conferência, embaixador André Corrêa do Lago, afirmar que a crise climática deve ser tratada como a emergência que representa e, a quem cabe o poder decisório, o governo Lula, não dar ao evento e à pauta a prioridade necessária.
Como se vê, é difícil discordar dos fatos. Não briguemos com eles.
Contagem regressiva: faltam sete meses e quinze dias para o início da COP da floresta.
Só nos resta torcer.