O primeiro alerta vermelho sobre a tragédia climática que se aproximava do Rio Grande do Sul foi disparado na segunda-feira, 29 de abril. Todavia, dois dias antes já chovia forte e até granizo nas áreas do Vale do Rio Pardo, região central do estado. Tempestade perfeita
Raras combinações de fatores por trás da tragédia gaúcha formaram aquilo que se convencionou chamar-se metaforicamente da soma de uma equação perversa resultante em uma tempestade perfeita. Ocorre que, para infelicidade geral do povo gaúcho, desta feita o fenômeno foi literal. A catástrofe até aqui deu fim à vida de 149 pessoas. Outras 125 permaneciam desaparecidas até a publicação deste texto. E o estado gaúcho vive um rastro de destruição em cerca de dois terços do seu território. Causas
Uma massa de ar quente sobre a área central do Brasil bloqueou a frente fria na região sul causando forte instabilidade, chuvas intensas com duração quase ininterrupta por cerca de duas semanas. A maior catástrofe climática da história do estado. Equação perversa
Pior, simultaneamente, houve a influência este ano do fenômeno El Niño, que historicamente aquece as águas do Oceano Pacífico, aumentando a instabilidade climática sobre o Rio Grande. Ambientalistas creem ainda em outro fenômeno causador da “tempestade perfeita fruto de equação perversa” para a ocorrência da tragédia: o aquecimento global.
Cujas evidências se dão por meio de eventos climáticos semelhantes estarem dando a impressão de terem entrado para a rotina da vida das pessoas e das cidades por todo o mundo. E a cada episódio, a tragédia parece aumentar de tamanho.
160 mil desabrigados
O tamanho da tragédia gaúcha soa algo inimaginável: a catástrofe atingiu dois terços do estado e afetou a vida de dois milhões de pessoas. Em menos de 10 dias do início das chuvas e inundações, mais de 160 mil pessoas estavam desabrigadas. Fuga
Sempre se falou das semelhanças geográficas de Belém e Porto Alegre, quais sejam área territorial, relevo; o fato de serem banhadas por rio e lago de água doce e possuírem região insular, por exemplo. Pois, num exercício de solidariedade, instigue-se os belenenses a se colocarem no lugar dos gaúchos e imaginar chuvas e trovoadas semelhantes em nossa capital nos compelindo a nos retiramos - os que tiverem a chance - no rumo do continente para além da área metropolitana, dada a inundação e destruição de Belém tal qual a capital gaúcha.
Dito isso, que sirva de alerta, ao tempo em que solicita-se qualquer tipo de ajuda pelos canais competentes. Aos que creem, que permaneçam em suas orações pelo povo gaúcho.
Fala infeliz
Passados cinco dias do alerta vermelho, 05 de maio, na coletiva de imprensa que concedeu ao lado de Lula, no domingo logo após o fiasco do 1º de maio presidencial, Eduardo Leite procurou se eximir de qualquer responsabilidade maior pela falta de uma estratégia mínima que antevisse o que estaria por vir e estabelecesse saídas para mitigar a destruição, soltando a pérola da mesmice e isentismo autopiedoso. “Não é hora de procurar culpados, não é hora de transferir responsabilidades. Vamos ter que trabalhar à altura que o momento histórico exige”.
A afirmação foi feita após ele ser questionado sobre a diminuição pelo seu governo das verbas destinadas à Defesa Civil e enfrentamento das mudanças climáticas.
Fala sério
Ora essa, doutor, claro que é hora de também questionar os responsáveis pelo poder executivo nas três instâncias. Por exemplo: a quem cabe a responsabilidade pelos vazamentos das dezenas de comportas, bombas defeituosas e extravasamento dos diques que não conseguiram deter e devolver ao rio (lago) Guaíba, parte da água e pioraram decisivamente a catástrofe urbana?
Onde estão as instagramáveis “salas de monitoramento”? Caso elas existam em âmbitos estadual e municipais, ajudaram de alguma forma?
Aquele local futurista onde tudo parece moderno em sua perfeição, que possui ares de sala da justiça contemporânea e de ser capaz de antever cataclismas como o gaúcho existe, Afinal?
Poses para fotos e cargo federal
Após reuniões e coletivas em que aparece ao lado de Lula nas fotos produzidas pela equipe do presidente, Eduardo Leite poderia responder objetivamente muito mais sobre o que não fez, do que a respeito ao que está fazendo agora. Mas fica pra depois. Aliás, Lula nomeou nesta quarta-feira, 15, o também petista (e gaúcho) Paulo Pimenta para o cargo de “ministro extraordinário de Apoio à Reconstrução do Rio Grande do Sul”.
Como o próprio nome presume, a autoridade responsável pela coordenação e integração do governo federal com os entes do estado no sentido de recomeçar a vida naquela terra de gente valorosa.
Culpas e responsabilidades
Guardadas as devidas proporções de natureza humanitária e causas distintas, neste momento de vigília, ação e planejamento, tome-se como exemplo a agressão infame do Hamas a Israel. Netanyahu é o primeiro-ministro da guerra, mas, internamente, a falha de segurança resultante no ataque terrorista fez de seu governo um déjà-vu, um “já era”, com data para ser trocado: a primeira eleição que houver após o tratado que der fim a invasão em Gaza ser celebrado. Afinal, falar em acordo de paz é demais.
Leite, Lula, todos os órgãos subordinados à Presidência da República que são obrigados por dever funcional e prerrogativas legais a atentar por questões climáticas e de defesa civil, da mesma forma na esfera jurisdicional do Governo do Rio Grande do Sul e da Prefeitura de Porto Alegre falharam.
Sim, tal qual o serviço secreto israelense, tido e havido como um dos melhores do mundo, os governantes falharam. No caso brasileiro, erraram ao não ter sequer um plano de contingência unindo as esferas federal, estadual e municipal, caso acontecesse o pior.
Nunca deram alertas ou existiram planos de evacuação e mitigação da extensão da tragédia. Como o furacão Katrina, o beijo de morte do governo (e era) Bush (2001-2009), todo mundo das respectivas áreas tem responsabilidade nisso. Claro que tem.
Todos deixaram a desejar. Ministério do Meio Ambiente. Marina Silva e equipe. Cada um e todos são responsáveis. Em maior ou menor escala. Direta ou indiretamente.
E haja falar-se em criação da “Autoridade Climática Federal” ou coisa do gênero. Muita pompa e pouca entrega, bem-vindos ao Brasil. Ou Bananão.
Desculpas
No conforto, solidão e acolhimento dos seus palácios, já que esperar recato, pudor e grandeza de Lula é too much, principalmente o ambicioso governador gaúcho deveria pedir desculpas para os seus conterrâneos. Sinceras desculpas muito além de honestos votos de condolências às famílias enlutadas. E votos de solidariedade e apoio às centenas de milhares de famílias que evacuaram suas casas e terão de reconstruí-las.
Desculpas por não terem sido capazes de antever, dados os antecedentes, por meio de instituições e especialistas ou o que os valham, que a imensidão humana, econômica e social do Rio Grande do Sul mereciam um centro de excelência em alertas sobre fenômenos climáticos.
Que diques, bombas e comportas estão entre os serviços que mais demandam manutenção e investimentos, de sorte que jamais acontecessem as falhas na hora em que a cidade e os porto-alegrenses mais precisaram.
Comoção e solidariedade
Os brasileiros mostraram mais uma vez que solidariedade é uma atitude maior que rixas, divergências e distâncias. Dentre todas as lições que ficam, o abraço que a população brasileira está dando ao Rio Grande do Sul é o gesto mais valioso e nobre.
E todo esse apoio pode indicar um caminho auspicioso para o desenvolvimento nacional: talvez seja a hora dos brasileiros passarem a entender a força que há por trás do empenho conjunto quando o assunto é o país e o fim, seu povo. A tragédia gaúcha é a causa nobre que uniu a nação, bem como um sinal para o seu futuro.
Futuro e pesquisa de opinião
Foi retratando o presente que a pesquisa Quaest/Genial revelou a opinião contrária à reeleição de Lula por 55% da população brasileira. O corte desnuda a soma de declarações e apoios desastrosos do presidente em âmbito internacional, uma economia estagnada, problemas na saúde, na segurança pública e desgastes institucionais na imagem dos três poderes.
E mais: revelações de luxos e bastidores das regalias e deslumbramento presidencial somadas ao fosso que a divisão permanece no país quando o assunto é política.
Eduardo Leite, por sua vez, que foi o único governador gaúcho a conseguir um segundo mandato consecutivo após a instituição da reeleição, o jovem político que tentou ser candidato a presidente em 2022, este será julgado em 2026 pelos gaúchos e, desse julgamento depende o seu futuro político.
Quanto ao camaleão Lula, a continuar como estão ele, seu governo e a economia, caso seja candidato à reeleição, o presidente pode até vencer, mas o risco de perder e a tendência de, uma vez que ganhe, fazer um quarto mandato mais sectário, pior avaliado e num país ainda mais rachado é tão grande quanto o risco de derrota.
Petrossauro
E finalmente caiu o presidente da Petrobras. E como não podia ser diferente, as ações da empresa despencaram fazendo a companhia perder cerca de 37 bilhões de reais em valor de mercado em um único dia. E Lula com isso? Nem aí, naturalmente. Petrolão
Veremos como Jean Paul Prates, o fritado e humilhantemente demitido ex-presidente da estatal se comporta após as cenas dos últimos capítulos.
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