Acabou o amor

Racha entre o ex-presidente do PSOL e seu antigo grupo político é mais um capítulo do farsesco terceiro mandato de Ed Rodrigues na PMB

06/03/2024 13:09
Acabou o amor

Sim, foi ele, Karl Marx,  quem escreveu que a história acontece como tragédia e se repete numa farsa.

Sim, o alemão se referia a tentativa de “repetição” da jornada do imperador Napoleão I por seu sobrinho, Napoleão III, que chegaria ao poder por meio da farsa de um golpe de estado.

Edmilson Rodrigues, de azarão em 1996, sagrou-se vencedor no 2º turno daquele ano. Foi um dos prefeitos da primeira leva após a aprovação da emenda da reeleição que puderam concorrer a um novo mandato no cargo.

Naquele ano, 2000, fosse o Ibope um instituto de pesquisa sério, ele teria sido apeado pela população numa eleição que desnudou-se disputadíssima.

Com o nome fora das urnas para o cargo em 2004 e 2008, tentou voltar ao Antônio Lemos nos pleitos de 2012, 2016 e 2020, quando, finalmente, foi eleito em 2º turno por cerca de 1% a mais que seu oponente, Everaldo Eguchi, outro adversário seu novamente e flagrantemente prejudicado pelo Ipec, o Ibope com novo nome.

E ninguém faz nada. A tragédia que foi a vitória na disputa pela reeleição em 2000, virou a farsa de 2020.

Pelo menos é o que dizem mais de 70% da população de Belém e a rejeição do alcaide que parece ter perdido o rumo de vez após sua grave infecção por Covid-19 em 2021, primeiro ano do atual mandato, regularmente um dos piores avaliados nas capitais de todo o Brasil.

Ed, Aldenor e Luiz

O dado concreto, como diria Lula, é que desde pelo menos a metade dos anos 1970, das eleições de 1982, 1986, quando Edmilson Rodrigues se elegeu deputado estadual pela primeira vez, até 2020, ele teve ao seu lado os irmãos Aldenor Jr. e Luiz Araújo.

Os três foram forjados nos movimentos estudantis ditos “revolucionários”, nos estertores da ditadura militar (1964-1985), e se uniram a quem sonhava implementar, por meio da luta armada, outra ditadura, a do proletariado, no Brasil, inspirada primeiro na União Soviética, depois no ainda mais rudimentar regime de Fidel Castro, em Cuba.

Consolidada a realidade indelével nessas quase cinco décadas de quem seria o candidato central da trinca, os complementares irmãos Aldenor e Luiz seguiram intocáveis em todos os mandatos eletivos do projeto político de Edmilson Rodrigues, até dezembro de 2023, quando Luiz saiu da gestão na PMB rumo, dizia-se, para Brasília, e agora, tudo indica, São Paulo.

Aqui pra nós, de olho no Boulos…

Diversionismo e reais motivos

Outro dado ainda mais sólido sobre a carta “ideológica” divulgada semana passada, na qual ele comunicou a mudança de grupo dentro do PSOL, foi, na verdade, ter deixado transparecer um gesto diversionista e eufemístico do real motivo do seu afastamento do irmão e dos irmãos, no caso os Rodrigues Edmilson e Edilene.

Em todos esses anos de idas e vindas do grupo político deles no poder, nas muitas divergências entre as divisões internas petistas e psolistas, dissessem o que quisessem de Luiz Araújo; que era sectário, autoritário, projeto de ditador, frio, gelado, calculista, mas não o chamavam de ladrão, corrupto.

O mesmo já não se pode dizer do irmão, Aldenor Júnior, que foi preso na operação Galiléia, da Polícia Federal, acusado de fraude em licitações, além de outras dezessete pessoas presas em Belém.

A farsa e a corrupção

Na farsa que tem sido este terceiro mandato de Edmilson Rodrigues à frente da PMB, para desespero da população de Belém, o que não faltam são suspeitas de malfeitos e desmantelo.

O que se diz pelos corredores do Antônio Lemos, nas demais sedes do primeiro escalão e nos círculos do poder, é que Luiz Araújo não compactua, ou não compactua mais, melhor dizendo, com os métodos chancelados ou comandados pelo irmão, Aldenor, e a primeira irmã, Edilene.

Dartagnan de saia

Chamar a tróika socialista de “três mosqueteiros” e dizer que um deles rejeitou a “Dartagnan de saias”, dada a ideologia que professam, seria um desrespeito com a obra do francês Alexandre Dumas, pai.

Todavia, é fato que a caçulinha dos Rodrigues, xodó do alcaide desde sempre, é uma das razões da saída dele.

A outra sequela diz respeito ao rompimento com o irmão e, na esteira do gesto, claro e evidente, do parça de ontem e sempre, Edmilson Rodrigues.

Cálculo

Outra constatação, esta espalhada escrachadamente pelos adversários internos de Luiz Araújo, é a versão de que ele saiu por vislumbrar uma possibilidade de espaço para mando e poder na campanha e gestão, caso Boulos saia vitorioso em São Paulo.

O que coincide com a migração da “tendência” “Primavera Socialista” para a “Revolução Solidária”, comandada pelo candidato do PSOL à prefeitura da cidade.

Fratricidas

Se a vaca for pro brejo em Belém, as divergências que afastaram os até então inseparáveis socialistas dos 1970, tem tudo para virar um pote de mágoas com consequências imprevisíveis em âmbitos familiares e políticos.

Caso os psolistas consigam virar o jogo e ficar mais quatro anos no Antônio Lemos, Aldenor Júnior e Edilene Rodrigues, não necessariamente nessa ordem, vão olhar com cara de nojinho para Luiz, que pode até não virar persona non grata por lá e no PSOL estadual, mas, da (nova) fama de ingrato, ele não se livrará tão cedo ou jamais.

Outra variante é a gestão Edmilson não ferir de morte a candidatura Boulos, pois somente uma vitória lá para evitar o isolamento quase total no PSOL, partido do qual já foi até presidente, do ex-melhor amigo de Edmilson Rodrigues, o farsante (desde o 2º turno das eleições) prefeito de Belém até, pelo menos, 31 de dezembro de 2024. 

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