Agências de Inteligência: “Abin paralela” do Carluxo e companhia ilimitada.

Dos Bolsonaro ao PT, passando por interessados de A a Z, espionar é crime de uns e fetiche de outros, desde que o mundo é mundo. E ainda: Daniela Lima, barrigada e “detratores”.

31/01/2024 15:34
Agências de Inteligência: “Abin paralela” do Carluxo e companhia ilimitada.

O interesse por espionar a atuação de políticos, seja um querendo saber tudo e mais um pouco sobre o outro, como no caso mais célebre, The Watergate, que derrubou Richard Nixon, ou mesmo o interesse das pessoas comuns pela vida dos famosos, está no DNA dos seres humanos.

Alta literatura

Parte central de Em Busca do Tempo Perdido, obra-prima de Marcel Proust, aos rendez-vous mais decrépitos, bisbilhotar a vida íntima e privada de quem for possível, sempre atendeu a interesses pessoais, psicológicos, sexuais, políticos, empresariais e muitos outros entre os poderosos por toda a história.

007 e John le Carré

Que o diga o sucesso do 007 no cinema, que tornou célebre e mitificou mundialmente a figura do agente secreto e dos espiões internacionais, possuindo milhões de aficionados pelo mundo afora. Da mesma forma que até gênero de literatura o tema se tornou, como um exemplo clássico, os personagens e romances de John le Carré, pseudônimo do escritor David John Moore Cornwell.

Montaigne e arapongagem

Em seus “Ensaios”, Michel de Montaigne (1533-1592), no século XVI, registrava o mensageiro como uma das três figuras chaves de um reino, sendo as outras duas, o curandeiro e o bobo da corte. No ensaio sobre o tema, o pensador francês deixa claro e evidente o papel muito mais complexo daquela figura pitoresca, do que somente o de “leva e traz”.

O escritor e autor Dias Gomes, no final da sua carreira televisiva, escreveu a novela “O Araponga”. Além de dar nome a um pássaro, o vocábulo é sinônimo de espião (agente) do SNI, que foi extinto e depois sucedido pela Abin.

Xandão, Gonet e Aras

No Brasil, a semana política iniciou com a operação de busca pedida pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet, e autorizada por Alexandre de Moraes, ministro do STF, contra o vereador Carlos Bolsonaro, o deputado federal e pré-candidato bolsonarista à prefeitura do Rio de Janeiro, Alexandre Ramagem, entre outros alvos menos votados. Alguém imaginaria Augusto Aras fazendo pedido semelhante?

Paralela do Carluxo I

Com efeito, Gustavo Bebianno, em 2019, disse que Carlos Bolsonaro pretendia ter uma Abin para chamar de sua. E agora com o seu camarada e ex-chefe da Abin sendo outro alvo da operação, as suspeitas só aumentam contra si. Não custa lembrar que Alexandre de Moraes barrou a ida do xará federal, Ramagem, para o cargo de diretor-geral da PF.

Paralela do Carluxo II

A justificativa para aquilo que o pai de Carluxo, Jair Bolsonaro, chamaria em live após a batida de “esculacho” contra ele e família, foi a descoberta pela PF do pedido de informações que uma assessora do "02" teria feito a Alexandre Ramagem, sobre investigações contra a família do ex-presidente.

Nada novo no Front 

A operação foi fruto de investigação antiga sobre os Bolsonaro terem usado a Abin durante a presidência do pai de Carlos para monitorar adversários e acompanhar os casos e processos dos quais eram alvos.

Orcrim…

O inquérito da Polícia Federal que resultou na operação em Angra dos Reis, no momento em que Carluxo e o pai tinham saído para uma pescaria, trata o “02” como quem recebia informações colhidas ilegalmente por aquela que seria uma estrutura ilegal montada dentro da Abin. Carlos Bolsonaro seria do “núcleo político” da “organização criminosa” que se instalou na agência de informações.

… Aliás

O que se diz entre os jornalistas do Lula, é que ambos foram pescar pouco antes porque foram informados da chegada dos carros pretos no local, hora e data. Ou seja: a operação teria vazado, dizem os jornalistas, tipo o neolulista Reinaldo Azevedo.

Espião e geolocalização

As investigações revelaram que a turma do “02” fazia uso dos programas “Espião e Geolocalização”. Como os próprios nomes explicam, a ordem era monitorar tudo e todos em qualquer circunstância e dentro dos interesses dele e companhia.

Consequências

Como lembrou Marco Maciel, “as consequências vêm depois”. Dito isso, cadernos de política e algumas primeiras páginas de jornais impressos e outros tantos de portais de notícias amanheceram nesta quarta-feira, 31, com manchetes sobre a publicação de um Diário Oficial da União extra, na noite de 30/01, contendo a exoneração pelo presidente da República do ex-número 02 da Abin, Alessandro Moretti, e de quatro chefes de departamentos. Lula aproveitou para nomear sete novos diretores. 

Falha, Ramagem e Moretti

Alessandro Moretti foi exonerado porque seria ligado a Alexandre Ramagem, investigado na operação em tela por suspeita de manter esquema de espionagem ilegal de autoridades. Pelo visto, alguém falhou quando o indicou e/ou nomeou. Quem?

Legado ou pista?

Nota divulgada pelo demitido Alessandro Moretti nesta quarta-feira, 31, afirma que: “(...) todo o material probatório coletado e produzido pela agência nessa (sic) apuração foi compartilhado com a Polícia Federal, que investiga o aparelhamento político do órgão na gestão de Jair Bolsonaro (PL)”.

01 na mira e os ministros de sempre…

Ontem, 30, a jornalista Vera Rosa, do Estadão, publicou em sua coluna, “Os bastidores do Planalto e do Congresso”, que “ministros do STF e aliados” cobram de Lula a demissão do diretor-geral da Abin, Luiz Fernando Corrêa. Quem seriam os ministros??? 

A barrigada da Daniela Lima

Ainda repercute na “categoria”, a “barrigada” da apresentadora do canal GloboNews, Daniela Lima, que, ao noticiar a busca da PF contra Carluxo e Ramagem, afirmou, equivocadamente, que um notebook da Abin teria sido apreendido na casa de Angra dos Reis.

Erro

Tudo bem, existe uma mega polarização também entre a “imprensa lulista” e a “bolsonarista”, e Lima fez a alegria de quem a acusa de pertencer ao primeiro grupo. Ocorre que, ao ler ao vivo e ter dado a entender que a sua apuração era aquela mensagem de uma fonte via whatsapp, carente de checagem mínima, ela deu margem para todo tipo de reações contrárias.

Duplo

Errou ao afirmar que o aparelho tinha sido apreendido nos domínios de Carluxo e, ao invés de assumi-lo pura, simples e honestamente, replicou atacando os seus “detratores”. Reação que só aumentou o equívoco da apresentadora. Definitivamente, Daniela Lima não saiu maior da aposta na resposta errada, além da falha na checagem sobre a veracidade da informação. 

Era da Abin

Afinal, restou esclarecido que o computador pertencia a Abin, e fora encontrado na casa de um militar também alvo da operação, por estar sob a guarda da sua esposa, funcionária da agência.

Big Brother Brasília

Nós, as pessoas comuns, que fiquemos espertos. Está tudo dominado pelas “Abins” deles. No fundo, no fundo, cada um quer ter a sua. Ambos os grupos políticos se equivalem nos extremos. Um espia daí. O outro dali. E salve-se quem puder.

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