As eleições de 2024, 2026; a lei da gravidade, o bolsonarismo e o neosocialista Daniel Santos

07/04/2024 09:10
As eleições de 2024, 2026; a lei da gravidade, o bolsonarismo e o neosocialista Daniel Santos

"Tempo, tempo, tempo, tempo", como na música que tem nome de oração, de Caetano Veloso. E basta o seu correr para que tudo vá se descortinando, se explicando…

Aliás, o gerúndio está em alta nas campanhas publicitárias por essas bandas… E "explicar-se" é um negócio tão delicado, que até o verbo é intransitivo: "eu me explico".

E o que têm a ver a lei da gravidade descoberta por Sir Isaac Newton (1643-1727) e o "senhor tão bonito", da música do "Caê", para os íntimos?

Tudo a ver, do ponto de vista do jogo político e das disputas que se avizinham em outubro deste ano e de 2026. Vive-se, para os seus atores, o primeiro ato daquela eleição nesta de 2024.

Aliás, pontificar num modesto texto jornalístico ao lado de alguém como Sir Isaac deve ser motivo de orgulho para quem quer que seja.

Hegemonia e desafiante

Após o repetitivo, exaustivo e maçante período que antecede as datas limites da lei eleitoral que trata de domicílio, filiação e troca de partidos, bem como alguns despistes e muita, um milharal de "plantação" de notícias via "sugestões de notas", releases e matérias nos veículos impressos e online - donde se lia muito mais versões do que fatos -, finalmente se encerraram segredos, ainda que alguns de polichinelo, e as mudanças sobre as quais se especulava foram se confirmando aqui e acolá.

A principal delas foi o rompimento político entre Helder Barbalho e Daniel Santos, com repercussão no jornal da família do governador nas edições do final de março e nesta de sábado e domingo, 06 e 07 de abril, que denunciaram em manchete de capa acusações na área de saúde contra o agora antagonista declarado do chefe do executivo estadual.

O "dr. Daniel", prefeito de Ananindeua, se arma para desafiar a hegemonia que Helder Barbalho vem reconstruindo desde 2018 para o clã consolidado nos anos 1980 em torno da figura do seu pai, o líder sênior, ex-governador e senador Jader Barbalho.

Criador e criatura

Entre os "mais antigos", digamos assim, até as eleições de 2022 ainda era difícil afirmar que a criatura superara o seu criador em matéria de reconhecimento nacional como representante do Pará na seara política.

Todavia, com a reeleição consagradora de Helder, seu prestígio junto ao eleito Lula e o protagonismo que conquistou a partir da proposta vencedora de Belém sediar a COP30 em 2025, o "debate" foi reaberto.

Some-se a relevância paraense e amazônica no tema mundial que se tornou o meio ambiente e a mensuração do seu nome como candidato presidencial no futuro, fatos inequívocos que acentuam a comparação, colocando Helder em tendência de alta. E muito provavelmente com o orgulho, incentivo, chancela e voto do pai.

Alckmin e Daniel no PSB

Em meio a tudo isso - que está longe de ser pouco -, eis que, finalmente, Daniel Santos se pirulitou rumo ao Partido Socialista Brasileiro (PSB), comandado há décadas no Pará pela família Andrade, feudo que passou do pai Ademir para o filho Cássio.

E esse detalhe, claro e evidente, criou constrangimento ao ponto de gerar até publicação de nota oficial reafirmando o comando andradino baiano-paraense no comando da agremiação.

Aliás, que tem na figura de seu presidente nacional, Carlos Sequeira, a personificação do atraso das suas ideias, como a ferrenha e ideológica defesa que faz da criação da bomba atômica brasileira.

E, na outra ponta, um sopro de aposta na modernidade representada pela figura do jovem herdeiro de Eduardo Campos, o bem avaliado e carismático prefeito do Recife, João.

Prosélitos de sempre

Geraldo Alckmin conheceu o ostracismo em 2007, após sair menor do que entrou no 2º turno das eleições no ano anterior, quando levou uma surra nas urnas de Lula. Naquela em que bateu forte nele nos debates. 

Foi reapresentado a ele, o "fim" do sonho presidencial e de maneira ainda mais dura e humilhante, nas eleições de 2018, da qual Jair Bolsonaro saiu vencedor. 

Confirmando a tese de que em política, no Brasil, até boi "avua", todos sabemos que o Picolé de Chuchu, para dar o troco em João Doria e nos outros tucanos que sempre foram seus inimigos íntimos, tipo José Serra e Aécio Neves, deu um cavalo de pau e, de "neoliberal e nazista" para os petistas, lulou via PSB.

Pergunta

Afinal, por essas paragens, entre tapas e beijos, ops idas e vindas, após "as voltas que o mundo dá", Picolé e Lula pra cá, Bolsonaro e os seus pra lá, como se equilibrar entre o presidente e Helder e o seu vice e Daniel?

Respostas 

Decisivo em São Paulo para a vitória do petista de 2022, para prepostos do presidente no partido e governo, tipo Gleisi Hoffmann e Rui Costa, Geraldo Alckmin pode ir cantar em outra freguesia nas eleições daqui a pouco mais de dois anos, abrindo a vaga de vice para os interesses partidários e/ou individuais da tchurma.

Nos dois casos, leia-se o que Lula mandar.

A depender dos humores de sua excelência a maioria dos eleitores em relação ao resultado final da peleja de 2026, e internamente no PT dele, o capo, nada será decidido até o limite do possível e dos prazos legais.

A convivência entre todos até lá começará a se decidir em outubro próximo e tem até 2026 para que cada um vá dançar com o seu par.

Com efeito, se der uma peia nos seus adversários em outubro, como se tem dito por aí que assim será, o dr. Daniel poderia "jogar parado" até abril de 2026. Só que não.

Cada vez mais vai rodar o Pará e Brasília, não necessariamente nessa ordem, em busca do sonho grande, o governo do estado. 

Caso lhe seja conveniente permanecer com a garantia de que será o candidato do PSB, num idílio eleitoral, deverá ser porque Alckmin irá permanecer na chapa com o chefão petista.

Nesse caso, na teoria, a recandidatura do atual presidente teria dois palanques aqui.

De um lado, tudo dando certo para eles até lá, Hana, Helder e Lula e, juntos mas nem tanto, Alckmin, Daniel e os seus com o petista no meio.

Disputa pelo poder

Mas, se Alckmin for rifado, deve ter se comprometido a garantir a mudança partidária de Daniel sem sobressaltos, caso ele queira, para, muito provável e gravitacionalmente cair nos braços do bolsonarismo que estará, certamente, em oposição a Lula e ao lulismo.

Naquele milharal de "plantações de notinhas" que precedeu as datas eleitorais, a rapaziada aliada do prefeito de Ananindeua espalhou sem dó nem piedade em tudo que é site e impresso que conseguiu, que ele estava fechado com partidos que gravitam em torno do ex-presidente.

E mais: que será o principal financiador da campanha à PMB do deputado federal Éder Mauro, queridinho de Bolsonaro no Pará, e líder nas pesquisas para o Antônio Lemos até aqui.

Como se percebe, entre a ambição, a astúcia, a malícia e a vontade de chegar ao topo do poder político, o dr. Daniel optou topar tudo para seguir em busca do sonho grande.

Por ora, espera contar com o partido e o vice-presidente da República, aqueles a quem traiu em 2018, leia-se o ex-governador Simão Jatene, Márcio Miranda, os que lhes restam, os preteridos de 2022 e 2024 no condomínio que está com o MDB e no seu entorno.

E, finalmente, bastando para tanto que seja conveniente aos seus interesses no momento certo, o bolsonarismo em primeiro e/ou segundo turnos nas eleições do ano da graça de 2026.

Newton, traídos e traidores

Sir Isaac Newton é considerado por muitos a maior intelligentsia a serviço da ciência em todos os tempos. Um colosso e o orgulho maior da academia de matriz inglesa.

Autor de "Princípios Matemáticos da Filosofia Natural", livro responsável por lançar aquelas que foram consideradas as bases da mecânica clássica e no qual também estão formuladas as "Leis de Newton", modestamente , o inglês inspira uma análise como esta sobre as artimanhas da política local em 2024.

Se, metaforicamente, na política muitas vezes o tempo entre duas eleições parece uma eternidade para uns e um sopro, para outros, imagine entre cinco? No caso, de 2018 a 2026 e oito anos no meio do caminho.

É tempo suficiente para que tudo passe e, como diz em outra canção, "tudo passará"...

Não foi por gravidade que em 2018 a presidência da Alepa caiu no colo de Daniel Santos.

O prêmio na sua carreira fulgurante veio pela votação que teve, associado ao rancor de Manoel Pioneiro com Simão Jatene.

Ali também nascia a sua candidatura vitoriosa - quase hegemônica - à prefeitura de Ananindeua em 2020.

Por todo o Pará

Dois anos depois, após milhões de motivos que o tornaram ainda mais independente, o prefeito de Ananindeua "aprontou de novo": sem combinar com os líderes maiores, "por assim dizer", ou tampouco "pedir licença", elegeu a esposa a deputada federal mais votada.

Como se vê, o governador bem avaliado e mega articulado tem no seu quintal o até outrora inimigo íntimo conspirando contra si, o seu governo, a conferência do clima, nos partidos da sua base e na de Lula.

A Helder resta vencer bonito em outubro, zerando o jogo e fustigando o ex-aliado em todos os cantos - inclusive em Ananindeua -, mas, sobretudo, “por todo o Pará".

E que venha a COP.

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