Palácio do Planalto, Brasília, 21 de março de 2023. Com apenas 50 dias
de empossado e 43 do putsch de 08 de
janeiro, Luiz Inácio Lula da Silva, em entrevista ao site amigo Brasil247, e
após dizer sentir “muita mágoa” pelo período em que ficou preso em
Curitiba, soltou a pérola:
“De vez em quando, um
procurador entrava lá (num dia) de sábado, ou de semana, para visitar. Entravam
três ou quatro procuradores e perguntavam: ‘está tudo bem?’. Eu falava: ‘não
está tudo bem. Só vai estar bem quando eu foder esse Moro’. Vocês cortam a palavra
‘foder’ aí”... Não cortaram.
Na época, o atual
senador pelo União Brasil do Paraná respondera que o presidente demonstrava,
com a declaração, “desequilíbrio” e uma “tentativa de diversionismo em relação
às falhas do governo”.
Corta para
segunda-feira, 1º de abril de 2024, um ano e onze dias após a frase indecorosa
e rancorosa de Lula.
Este ano, o “Dia da
mentira” no Brasil se revelaria aquele no qual um desembargador diria um monte
de verdades a respeito da tentativa de cassação do mandato de senador de Sergio
Moro.
O juiz a quem Lula
trama o ostracismo desde que fora denunciado pelo então magistrado como o
chefão dos esquemas na Petrobras e que tais, que seriam revelados pela Operação
Lava Jato.
PT e PL x Moro
Luciano Carrasco
Falavinha Souza é o nome do desembargador relator do pedido de perda de mandato
nas ações impetradas com este fim por PT e PL que, para contrariedade dos
autores, do Ministério Público Eleitoral do Paraná (MPE-PR) e de Lula,
votou contra ambos os pedidos.
Segundo as ações,
Moro teria usado recursos públicos em atos de pré-campanha quando havia se
filiado ao Podemos com vistas a embarcar numa candidatura presidencial, o que o
teria ajudado de forma irregular na candidatura ao Senado.
Após o voto de
Falavinha Souza, outro desembargador, José Rodrigo Sade, pediu vistas do
processo, fazendo com que o Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR)
interrompesse o julgamento, que irá reiniciar nesta quarta-feira, 03.
O desembargador José
Rodrigo Sade era advogado até o último dia seis de março. Ele foi indicado por
Lula para última vaga que precisava ser preenchida no TRE-PR, no dia sete
daquele mês.
Falavinha x MPE
Em dezembro do ano
passado, o MPE-PR emitiu parecer se manifestando a favor da cassação da chapa
de Sergio Moro.
As mais de 200
páginas do relatório de Falavinha Souza colocam o documento emitido pelo parquet ministerial
no seu devido lugar. Dito isso e revelado o voto, é vergonha alheia que
chama?
O voto
O relator Falavinha
Souza votou contra a cassação da chapa (Moro e suplentes) contraditando as
teses levantadas pelos partidos e afirmando:
“Para que fosse
possível concluir que o investigado Moro extrapolou limites de gastos porque
usou da frustrada candidatura à Presidência para se cacifar para o Senado no
Paraná, era imprescindível comprovar que ele, desde o início do projeto, tinha
a intenção de se candidatar pelo Paraná. Na espécie, isso não ocorreu”.
Criminalização
O desembargador não
pararia por aí: “(...) Observa-se ainda a odiosa criminalização da política.
Mesmo diante da legitimidade da insatisfação da sociedade organizada, não cabe
ao Poder Judiciário agir na esteira do que considera indignante, mas sim prestar
a jurisdição atento às leis e, principalmente, ao arcabouço constitucional
vigente”, disse em seu voto.
Arrasador e desforra
Para Merval Pereira,
em O Globo, o voto de Falavinha Souza foi arrasador não apenas sobre a
tentativa de arrancar um mandato conquistado pela vontade soberana da maioria
do povo paranaense, mas, também, na “quase denúncia” de que as ações se tratam
de retaliação e desforra.
“Só vai estar bem
quando eu foder esse Moro”
Merval atribui a
retaliação ao PT (leia-se Lula). Já a desforra, àqueles que não admitiram a sua
candidatura presidencial e não se conformam com a sua “maiúscula” vitória
eleitoral na terra natal.
Sobre o PL, o
jornalista e presidente da Academia Brasileira de Letras (ABL) lembra sua saída
atirando do governo Bolsonaro, e os que lhe culpam pela derrota de Alvaro Dias,
responsável por endossar sua candidatura à presidência.
Fragilidades e
ingenuidade
O voto do
desembargador não deixa pedra sobre pedra quanto à fragilidade das acusações.
Em relação à caça às bruxas promovida contra Moro e sua chapa, o magistrado
reforça o componente vingança do caso e dá uma fustigada no próprio ex-juiz
que, para ele, se comportou como um ingênuo naquele pântano ao qual ousou
confrontar enquanto responsável pela operação que abalou o Brasil:
“É muita ingenuidade
acreditar que o investigado, atuando como juiz em grande investigação de
combate à corrupção que afetou razoável parte do quadro político, ao sair de
magistratura e ingressar no governo beneficiado eleitoralmente pela indicada
operação, não seria atacado”.
Ele continua:
“(...) Que saindo
desse governo atirando não receberia retaliação futura e, ao fim e ao cabo,
sair candidato e sagrando-se vencedor em candidatura ao Senado contra aquele
que lhe abriu a candidatura presidencial, não poderia ser alvo de desforra”,
relatou.
A luta continua
Sergio Moro, o
advogado que o defende e os (poucos) aliados na política que tem sabem que,
apesar da frustração dos seus inimigos com a contundência e fundamentos do voto
do relator, a briga está longe do fim.
Eles, os seus
inimigos, contam com o TSE para a cassação definitiva, instância onde o senador
deve recorrer caso seja cassado no Paraná, a mesma que será provocada a se
manifestar se Moro for absolvido no julgamento em curso.
Com a retomada do
julgamento nesta quarta, dá-se como certo o voto pela cassação do desembargador
que pediu vistas, José Rodrigo Sade.
Coincidência de 126
milhões de dólares
Uma curiosa
coincidência tornou-se pública neste já icônico 1º de abril. Na mesma data foi
divulgada a notícia na imprensa de que a empresa Trafigura, com matriz em Cingapura e sede na suíça,
concordou em pagar 126 milhões de dólares para encerrar uma investigação nos
EUA sobre a sua atuação na corrupção na Petrobras desbaratada pela “Lava Jato”.
Rigores lá x
impunidade cá
Não é a primeira vez
que se lê, de 2018 pra cá, uma notícia como essa, apesar da coincidência
parecer conspirar a favor de Moro.
Odebrecht, JBS e
outras gigantes têm sido chamadas às Cortes de outras nações para que se
defendam e paguem pela roubalheira que o PT e seus sequazes teimam em querer
transformar em culpa dos seus julgadores.
“O sistema não
perdoa”
Só nos resta torcer e ter esperança de que um dia a casa caia para essa patota
do mal. Afinal, como disse o delegado interpretado pelo genial Selton Mello na
série “O Mecanismo”, cujo juiz, Paulo Rigo, também foi inspirado em personagem
real e é retratado na segunda temporada como alguém seduzido pela fama, “o
sistema não perdoa”.
Ironia do destino,
hoje é Sergio Moro quem mais pode sentir isso na pele. Ontem, foi outro algoz
da devassidão com o patrimônio público promovida na Petrobras: o deputado
federal cassado e mais votado pelos paranaenses em 2022, ex-procurador Deltan
Dallagnol.
PS: Esta coluna
deve ser atualizada ainda hoje.
Desembargadora também pede vistas
Retomado o julgamento, conforme se indicava, o desembargador José Rodrigo Sade
votou contra o relator e pela cassação de Moro, abrindo, assim, a divergência.
Em seguida, a desembargadora do TRE-PR Claudia Cristina Cristofani também pediu
vistas e o julgamento prossegue na segunda, 08 de abril, com o placar atual de
1 x 1.
Coluna atualizada às
16:25 - 03/04/24.