Eleições 2024: em Belém a polarização é Helder x Bolsonaro.

MDB, metade do PT, uma dezena de partidos com Igor Normando contra um Éder Mauro colado ao ex-presidente e família.

25/08/2024 08:00
Eleições 2024: em Belém a polarização é Helder x Bolsonaro.
"Não estou construindo essas coisas para mim,
mas para a minha cidade natal."
(Plutarco 46-120 d.C.)

No primeiro mandato presidencial de Lula (2003-2006), os governadores do PT eleitos naquela eleição, Jorge Viana (Acre), Wellington Dias (Piauí) e Zeca do PT (Mato Grosso do Sul) formavam a trinca mais próxima do petista por razões óbvias.

No mandato seguinte, iniciado em 2007, outros dois governadores eleitos e filiados ao PT, Jaques Wagner (Bahia) e Marcelo Déda (Sergipe) se somaram aos três reeleitos, ainda que apenas o piauiense fosse o único que pudesse ser comparado, em matéria de prestígio com o então consagrado Lula, ao baiano e ao saudoso político sergipano, admirado para além das fileiras petistas. 

Fora do PT, ex-ministro de Lula como Wagner e eleito em Pernambuco, o também saudoso Eduardo Campos (PSB), era o único entre os 27 governadores que rivalizava em matéria de bem-querença e admiração pelo então presidente.

Naqueles dias de glória lulista pós-Mensalão, depois de ser eleito prefeito de Ananindeua em 2004, o jovem Helder Barbalho tornou-se um aliado fiel do PT. O mesmo Helder que seria eleito dezoito anos depois em 1º turno, proporcionalmente, o governador mais votado do Brasil, com cerca de 70% dos votos válidos.

Fora do espectro petista, atualmente o paraense desponta como o chefe do executivo estadual mais prestigiado pelo presidente neste seu terceiro mandato.

Polarização I

Se Helder já gozava da simpatia do babalorixá petista, ao ser reeleito de forma consagradora, dar a vitória ao presidente e ao candidato do PT ao Senado no estado, convidar Lula para ir a COP-27 no Egito, onde lançou Belém como sede da edição da conferência em 2025, resta evidente que há uma sintonia comparada aos governadores mais próximos ao petista dentro e fora do PT.

Dito isso, não é à toa que seu nome circula como um dos possíveis vices na chapa do atual presidente nas eleições daqui a pouco mais de dois anos, em 2026, e que ele polariza, sim, a eleição em Belém contra o bolsonarismo.

A debacle de Edmilson

Reconhecido até pelos seus adversários como cumpridor de acordos, soa até difícil imaginar que o governador do Pará chancelaria uma candidatura do seu partido em Belém, uma vez que o ex-petista e atual psolista Edmilson Rodrigues, seu aliado até outro dia, não fosse um dos mais mal avaliados prefeitos em todo o Brasil.

Não que ele, apelidado de Ed Potoca por membros do seu próprio partido, fosse um queridinho de Lula - pelo contrário -, mas após a Lava Jato e a rentrée do Psol no condomínio petista em 2022, foi firmado um compromisso de apoio mútuo entre o velho PT e o ex-partido radical nascido da sua costela, particularmente em São Paulo e Belém.

Ocorre que todo mundo sabe do desgaste de Edmilson e da quase inviabilidade da sua reeleição dada a sua rejeição na casa dos 70% desde que pesquisas sobre a sua terceira gestão na PMB passaram a circular nacionalmente no início de 2024.

Vácuo zero 

Para não correr o risco de ter o representante do bolsonarismo no estado, o delegado e deputado federal Éder Mauro, um co-anfitrião da COP-30, ou mesmo outro adversário, o governador lançou o candidato do seu partido na disputa.

Na esteira da aposta e do desgaste aparentemente mortal do atual prefeito de Belém, o governador viu o seu afilhado político, Igor Normando, crescer na disputa antes mesmo do início da propaganda eleitoral e da campanha formal, um fato surpreendente na capital se comparado aos cenários eleitorais desde, pelo menos, 2008.

A densidade eleitoral do ex-secretário e atual deputado estadual confirma a tese de que em política não existe vácuo de poder, ao tempo em que ratifica a alta popularidade e o prestígio estável com viés de alta do governador em Belém, que vive um misto de frisson, euforia e uma certa apreensão em meio ao visível canteiro de obras que ocorre na cidade e as altas expectativas sobre melhorias e legados a pouco mais de um ano da conferência da ONU.

Teto

Poucas também são as dúvidas após o início da campanha formal e do horário eleitoral gratuito sobre as aparentes dificuldades de ampliação de votos num provável 2º turno do representante de Jair Bolsonaro em Belém.

Abrasivo, acusado de intransigente pelos seus pares de bancada federal e até no próprio partido, o delegado Éder Mauro demonstra estar no teto do seu crescimento, o que tem sido comprovado em simulações de 2º turno por diferentes institutos de pesquisas, incluídos os nacionais Paraná e Atlas/Intel.

Ao passo que Igor Normando, o pupilo (e primo) de Helder, disparou nas intenções de votos em ambos os institutos e nas projeções sobre uma segunda rodada de votação, marcada para 27 de outubro.

Polarização II

Com seu arco de apoios somado a alta popularidade do padrinho político, baixa rejeição e uma azeitada equipe de campanha chefiada pelo experiente baiano Ricardo Amado, só mesmo o imponderável ou algum erro irremediável para frear o favoritismo de Igor Normando a seis semanas (42 dias) do 1º turno.

Com efeito, apesar da debacle do PT e do candidato da esquerda na capital paraense, persiste a polarização nacional em Belém, ainda que somente Jair e Michele Bolsonaro se arrisquem a vir até a capital para atos de apoio ao candidato da "direita" ou "extrema direita" como os seus adversários preferem classificar o carismático e assertivo deputado e policial aposentado. 

Ainda que Éder Mauro grite, gesticule, ameace e esperneie, não é disso que Belém necessita ou o que irá garantir os votos que precisa ter e que serão dados aos outros postulantes no 1º turno.

Por outro lado, parece que Lula só deve dar as caras na cidade se houver 2º turno e caso o governador lhe peça, na medida em que a situação aperte, ao contrário do que dizem as pesquisas que estão sendo divulgadas sobre este cenário.

Liderança

Convém não somente aos líderes nas pesquisas, mas a qualquer político que almeje uma candidatura majoritária e/ou proporcional vitoriosa nas eleições vindouras, dar uma passada na Feira do Livro que se encerra neste domingo, 25, e procurar alguns títulos para ler em momentos de folga que eduquem ou inspirem quando o assunto é liderança.  

Nesse escopo, melhor ainda será se valer dos ensinamentos do sábio e erudito citado na epígrafe deste texto, o grego Plutarco, famoso pela coletânea Vidas Paralelas e ensaios como, entre outros, o também clássico Como se tornar um líder.

"A cidade antes de mim"  

A frase acima era um lema dito frequentemente pelo escritor e historiador e tornara-se o princípio básico do seu pensamento. Que sirva de inspiração aos que pleiteiam sentar na cadeira de prefeito da Belém da COP-30, a partir de 01 de janeiro de 2025.  

Imperador estóico

Caso a curiosidade ou desejo de aprendizado aumente, convém sondar se há na feira algum exemplar de Meditações, do imperador romano nascido um ano após a morte de Plutarco, em (121-180) d.C., o estóico Marco Aurélio. 

Obra que influenciou estadistas ao longo de séculos, seu diário transformado em livro pode representar um elixir também àqueles que terão de resignar-se ante uma derrota iminente.

Fica a dica.

PS: Como diria o saudoso Zózimo Barrozo do Amaral, e o papelão do Lula sobre a eleição na Venezuela, hein?


Créditos fotos ilustração:
Éder Mauro - Câmara dos Deputados.
Igor Normando - rede social X
Edmilson Rodrigues: Agência Belém
 
 
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