Na classificação de eras por
letras, sou da geração X. A “nossa turma” vai dos nascidos entre 1965 e 1981,
fase considerada de reconstrução da Europa após a 2ª Guerra Mundial.
Você, que nasceu de 2000 pra cá, como a minha filha “Maria II”, é da geração Z. A galera de vocês é aquela nascida num mundo superconectado. E daí?
Daí que quem nasceu em 2004, há mais ou menos vinte
anos, portanto, veio ao mundo quando o primeiro membro da classe trabalhadora
era o presidente da república bananeira, ops, brasileira, e quis expulsar do
país o correspondente do mais influente jornal do mundo, o The New York
Times.
Tudo porque Larry Rohter, o agravado jornalista, ousou escrever em uma matéria que Lula da Silva, como o “Times” o chamava, talvez tivesse problemas com álcool.
Como não poderia ser diferente, a notícia da
tentativa correu o mundo e a repercussão foi suficiente para que a retaliação
típica dos tiranetes de província fosse abortada.
Quatro anos depois, pegando carona no trecho da
música W/Brasil, de Jorge Benjor, ele lançou o livro “Deu no The New York
Times - O Brasil pela ótica de um repórter do jornal mais influente do
mundo”, onde relata sua experiência na outrora Terra de Santa
Cruz.
A relação de Larry Rohter com o Brasil iniciara no ano em que nasci, 1972. Naquela época, do regime militar, ele era correspondente da revista Newsweek, e seu trabalho lhe fez apurar e reportar toda a complexidade de uma ditadura que tinha como inimigos jovens revolucionários que optaram pela luta armada, atos de terrorismo e retaliação à altura e tão violenta quanto.
A condição de “liberal” na acepção do termo em
inglês, sua língua pátria, o que equivaleria por aqui a ser considerado “de
esquerda”, não o impediu de reconhecer em um militar, o marechal Cândido Rondon
(1865-1958), uma das figuras mais fascinantes sobre a qual se deparara nesse mais de meio século de atividade jornalística e de escritor.
Rondon foi um dínamo que mereceu ser alçado ao rol
ou panteão como um dos mais destacados heróis da pátria. E Rohter se dedicou a escrever uma biografia digna do biografado e condizente com a
melhor escola do jornalismo a qual pertence.
A expedição com Teddy Roosevelt
Na superlativa vida de engenheiro militar, matemático, sertanista, cientista e pesquisador, o marechal Rondon escreveu um capítulo importante da sua profícua história ao lado de um dos mais bem avaliados e carismáticos presidentes americanos (26º) da história do país, o novaiorquino Theodore Roosevelt.
Também conhecido como “the colonel”, Teddy foi um titã e primeiro membro do clã a chegar à Casa Branca (1901-1909). Aventureiro, escritor aclamado e vencedor do Nobel da Paz, ele era “um dos homens mais célebres do mundo”, nas palavras do autor.
Ambos partiram em 1914, quando Rondon e o
ex-presidente republicano singraram os rios da Amazônia em meio às maiores
dificuldades e conseguiram mapear um rio até então desconhecido, que tinha mais
de 1600 quilômetros de extensão, e fora batizado de “Roosevelt”.
O pacifista
Antes disso, ele liderara a integração brasileira
de norte a sul por meio de linhas telegráficas, criara o Serviço de
Proteção ao Índio, e é considerado até hoje um dos maiores defensores da causa
indígena do país.
Pacifista, como faz questão de reiterar Rohter no
livro, Rondon tinha como lema em sua relação com os povos indígenas, “morrer se
preciso for, matar nunca”.
Ainda que o brasileiro natural do Mato Grosso dê
nome a uma cidade, Rondonópolis, e ao estado de Rondônia, para Rohter isso é
pouco perto da sua grandeza. “Todo brasileiro já ouviu falar de Rondon, mas o
que sabe é muito pouco”, ele costuma repetir.
O biógrafo defende que um dos objetivos do livro em
âmbito nacional foi mostrar outras facetas suas para além de
explorador.
Ele cita quanto a isso a influência que exerceu na
República Velha (1889-1930) e mesmo no Estado Novo de Getúlio Vargas, com quem
tinha altos e baixos na relação, chegando a ser preso em 1930 e ficado no
ostracismo até 1934, naquele que seria o primeiro período do caudilho na
presidência.
“Veio do nada e deu tudo ao Brasil”
Escrita originalmente em inglês, a obra tem quase 600 páginas em um trabalho de apuro e rigor de historiador
que levou anos de pesquisa.
Seu autor, tal qual o biografado, rodou o Brasil de
norte a sul e conhece, provavelmente - , in loco -, o território
nacional mais que 90% da sua população.
Rohter o considera um explorador dos mais
importantes em todo o mundo e o compara aos britânicos David Livingstone e
Richard Francis Burton, entre outros.
Escrever um pouco sobre a sua façanha é um deleite
no Brasil que esquece o descendente de indígenas que foi um dos maiores
brasileiros de todos os tempos. Afinal, como afirma o biógrafo, bem diferente
de uma turma que pontifica por aí, o marechal “veio do nada e deu tudo ao
Brasil”
Tempo de Felipe Neto
O influencer Felipe Neto quis lacrar e se
lascou.
“Cancelador geral da República”, na genial
definição que lhe foi conferida por, este sim, um garoto que engrandece a vida
pública nacional, o deputado federal Kim Kataguiri (União Brasil-SP), aprontou
mais uma, ele que, volta e meia, se sobressai na arte de ser macunaímico,
narcisista, embusteiro e metido a dono da verdade.
Neolulista de quatro costados, ao participar por
meio de um vídeo do simpósio "Regulação de Plataformas Digitais e a
urgência de uma agenda", realizado na Câmara dos Deputados, Neto se
referiu ao presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), como "excrementíssimo",
num trocadilho pobre e infame com excelentíssimo.
O parlamentar, por sua vez, acionou a Polícia
Legislativa contra o youtuber e declarou, por meio de nota oficial, que ele foi
autuado pelo crime de injúria qualificada, com pena prevista de prisão de um a
seis meses, ou multa.
A qualificação pode aumentar a punição em um terço
quando o crime for contra funcionário público, em razão de suas funções, ou
contra os Presidentes do Senado Federal, da Câmara dos Deputados ou do Supremo
Tribunal Federal.
A nota diz ainda que a Procuradoria Parlamentar da
Câmara dos Deputados acionará judicialmente o influenciador junto à Justiça
Federal.
Como se vê, havia um Lira no meio do caminho.
Enquanto isso, na mesma semana, Lula, o tiranete de 2004 que quis expulsar o jornalista do país porque não gostou da afronta, no caso a notícia sobre seus hábitos etílicos, passou uma descompostura em Geraldo Alckmin e Fernando Haddad, durante reunião ministerial e diante das câmeras da TV Brasil, como forma de mitigar as más avaliações populares retratadas nas pesquisas de opinião.
Ele merece o anão moral “influencer e cancelador”
Felipe Neto, o vilãozinho metido a “sabe sabe” da Estrela.
Larry Rohter, o brasilianista boa praça,
independente e brilhante, louvou um grande brasileiro, conquanto poderia ter
feito o mesmo sobre um concidadão seu, e personagens épicos não faltavam.
Se Lula tivesse logrado êxito, ainda que o
americano fosse casado com uma brasileira, expulso, ele não poderia voltar ao
país. Em 1977, quando visitou a Amazônia pela primeira vez, Rohter passou a admirar Rondon,
aquele que dera nome ao estado onde estava.
Com o livro de 2019 e sua grandeza, o escritor
associou o Brasil ao mundo dos grandes, levou Rondon para o primeiro time dos
exploradores mundiais e, como tal, um dos maiores homens do seu tempo, o colocando no justo
lugar que merecia em relação à expedição ao lado de Teddy Roosevelt.
Moral da história: Não espere grandeza de quem não
tem, no caso, de Lula e Neto. Esses, "vieram do nada e não deram
nada ao Brasil", parando por aqui...
Aplauda a magnanimidade, coragem e grandiosidade dos bem-aventurados Rondon, Roosevelt e... Larry Rohter.
E excelente semana do trabalhador a quem de fato
labuta.
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