Eterna Pindorama
O Brasil foi dormir na noite de quinta-feira, 17 de agosto,
após as declarações do criminoso juramentado Walter Delgatti Netto acusando
Jair Bolsonaro de lhe encomendar, em 2022, uma fraude no sistema eleitoral e
que assumisse a autoria de um grampo contra o ministro Alexandre de Moraes.
Cômico se não trágico
O hacker afirmou, se não fosse bastante o que já tido dito, que o então
presidente lhe indicou ao Ministério da Defesa para que preparasse uma
“narrativa” ou mentoria dos militares sobre segurança, vulnerabilidades,
falhas, deficiências, fragilidades ou aquilo que os valece, em relação as
urnas eletrônicas.
Risco de prisão
Esqueça cada uma das outras acusações que pesam contra o
ex-presidente. Só o estrago causado pelo Hacker de Araraquara com vistas a
torná-lo criminoso, segundo matéria assinada pela repórter Malu Gaspar em O
Globo desta sexta-feira 18, fez com que membros da CPI aliados de Lula
trabalhem para lhe imputar quatro crimes, que podem condená-lo a 18 anos de
prisão.
Tipificação
Golpe de estado, escuta ilegal, autoacusação falsa e indução ao crime. Simulação de fraude em urnas, grampo,
promessa de indulto e incitação no caso de juízes que pedissem a prisão do
hacker criminoso, seriam as acusações contra si fundamentando cada tipo penal.
Indulto
Diante de fatos e versões, das mais estultas como as da
enroladíssima Carla Zambelli, às menos verossímeis, de que trabalhara de graça
para o PT, segundo o hacker, Jair Bolsonaro lhe encomendara os serviços mais
sujos que pau de galinheiro em troca de um indulto presidencial, caso fosse
pego pela justiça.
Bolsonaro nega
O ex-presidente refutou as acusações sem provas do vigarista profissional Delgatti Netto, ainda que tenha confirmado que o encaminhara ao Ministério da Defesa. É assustador, quase inacreditável, um presidente da República que jurou defender a constituição e, na condição de chefe de estado e governo, se dar ao desfrute de estar ao telefone ou ter recebido um sujeito do jaez e histórico do hacker e, pior, o tenha sondado para atuar contra a democracia junto às forças armadas.
Tantas você fez
Falar ao telefone com um criminoso acusado de invadir
celulares de autoridades federais? Que Jair Bolsonaro sempre abusou da “regra
3”, todos que não orbitam na sua esfera de influência (nem do PT) estamos
cansados de saber. Ocorre que a cada dia resta mais claro a sua inata vocação
para a autodestruição, independente de atentados ou pela ação de inimigos
públicos.
Relatório e processo
O indigitado nerd do mal, “Vermelho” para os íntimos, disse
à CPI que o relatório do Ministério da Defesa apresentando à Justiça Eleitoral
foi feito baseado nas suas orientações. Após admitir que o indicou ao comando
da Defesa, Bolsonaro negou que a motivação seria para fraudar as urnas,
afirmando que iria lhe processar. O Exército, por sua vez, calou-se. Surreal.
Cardápio devastador
A prisão de Bolsonaro, que também teve o pedido de quebra de sigilo
telefônico seu e da esposa Michele autorizados por Alexandre de Moraes, somada
a afirmação do advogado do tenente-coronel Mauro Cid de que o oficial cumpria
ordens, ou seja, que vendera o Rolex e teria entregue o dinheiro da venda à
Bolsonaro a seu mando, compõem um cardápio que pode ser devastador contra o ex-presidente.
Ponto final
A prisão de um líder que obteve 49,1% dos votos válidos em eleição presidencial recente diante do
histórico de tensão por que tem passado o país antes, durante e após o seu
mandato e os atos de 08 de janeiro, deve requerer um outro cardápio, este muito
bem fundamentado no direito penal e constitucional, mas robustecido de
“considerandos” que incluam estado de defesa, estratégia, lei, ordem e plano de
contingência.
Quem é Walter
Delgatti Neto?
Um picareta também conhecido como “Hacker de
Araraquara" e “Vermelho”. Natural da cidade paulista, ele responde a
crimes como estelionato e invasão de privacidade, entre outros.
Vermelho
“Vermelho” ficou célebre por ter invadido os telefones celulares de
procuradores do MPF responsáveis pelas investigações da Operação Lava Jato.
Suas revelações foram divulgadas pelo site The
Intercept Brasil, editado pelo ativista americano Glenn Greenwald, radicado
no Rio de Janeiro desde 2005.
Muy amigo da esquerda
Após as revelações, Delgatti Netto disse que não recebeu
nada pelas transcrições ilegais usadas como provas pela maioria de ministros do
STF para soltar Lula, arguir a suspeição do então juiz Sérgio Moro, anular
provas, delações e todos os processos contra o então ex-presidente, tornando-o ficha
limpa novamente. Um soldado do PT, afinal.
Guinada
Após entrar para a história política do Brasil como o cafajeste cujas
revelações obtidas criminosamente reabilitaram um ex-presidente permitindo-lhe
que, mesmo ex-condenado e ex-presidiário acusado em três instâncias retornasse
ao posto mais alto da nação, Delgatti Netto, dizendo-se traído e/ou abandonado
pelo PT, virou best friend de ninguém
menos que a pistoleira Carla Zambelli, figura patética e caricata do
bolsonarismo.
Ficha corrida
O picareta com talento - não existe estelionatário
profissional que não o seja -, foi lembrado na CPI do 08 de janeiro pelo agora
senador Sérgio Moro, da sua “ficha corrida" em depoimento já incluído no rol da infâmia e do folclore político
bananeiro. Somente em uma condenação, o meliante lesou 44 pessoas.
176 celulares invadidos
Moro lhe passou na cara que ele responde à acusação, desta
vez por invasão de privacidade, de 176 pessoas ao todo, dentre elas o
empresário Abílio Diniz e o ex-ministro Paulo Guedes.
Hacker definição
Palavra de origem inglesa que classifica portadores (as) de
grandes conhecimentos de informática e programação, dedicados a encontrar
falhas e invadir ilegalmente sistemas computacionais.