Melancolia sem fim
Em meio a realização da Cúpula da Amazônia foi divulgada a cessão da sede da Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) como local para os despachos de chefes de estado que viriam para o evento, bem como aos ministros do governo Lula e demais autoridades com presenças confirmadas, os presidentes do BNDES, Aloizio Mercadante, e do Ibama, Rodrigo Agostinho, incluídos.
Coworking, Think Tank and press releases
Cercada de inutilidade e anglicismos por todos os lados, a
desimportante Sudam, após suas mofadas salas e demais dependências servirem de coworking para o time de Lula e quem
mais desejasse, eis que o comando da autarquia manda distribuir press releases à imprensa anunciando,
com o complexo de superioridade que ainda lhe é caro, uma parceria com grifes
como a ONU, por meio do PNUD e do Instituto Publix, contendo dados sobre a
região. Virou think tank.
Onde está o dinheiro 1?
Enquanto isso, trabalhadores, estudantes, acadêmicos,
empresários, industriais, ribeirinhos, profissionais liberais, religiosos,
investidores, empreendedores individuais e o agro permanecem querendo saber: e
sobre desenvolver a região econômica e socialmente?
Resposta
Caso a resposta seja: "Aí é com o PAC"… cabe a
tréplica: - E se o programa publicitário, ops de governo, somente investir
(igual ao Lula II) 09% do previsto em infraestrutura? Resposta: lascou-se.
Onde está o dinheiro 2?
Calma, gente. Poxa. O trabalho digno de Nobel selecionou 373 indicadores
priorizando os dados disponíveis nos estados e municípios - que massa! Quarenta
servidores da Sudam foram orientados por professores do PNUD, com consultoria
do Instituto Publix.
Trabalhos
Os dedicados especialistas e técnicos trabalharam desde março no colosso.
Enquanto isso quem produz, paga imposto e rala segue perguntando: cadê o
desenvolvimento? Onde está o dinheiro? Qual o orçamento para a Sudam entre 2023
e 2026?
Políticos
Para além da ocupação de cargos, o que dizem os políticos paraenses sobre
este estado de coisas? A SUDAM serve
para algo conectado com o bem comum da população regional? Se sim, qual ou
quais?
Indução
Afinal, até os respeitáveis
técnicos contratados para limpar as poluídas e sujas splits da autarquia sabem
que, desde que foi criada e recriada, a sua natureza jurídica (até no nome de
batismo) fala em desenvolver a Amazônia.
Mais do mesmo…
Aí vem um diletante nomeado e aparelhado na extensa teia do "Cabidão do Lulão", com o ex-sindicalista e senador Paulo Rocha à frente, e diz que os "dados com dashboard Badam", um painel com indicadores georreferenciados para a Amazônia Legal, "blá blá blá, blá blá blá, blá blá blá blá blá blá'...
… E continua
Os cínicos de sempre dirão:
"Tenham um pouco de paciência. O processo de construção da ferramenta de
seleção e parametrização de indicadores teve como base coleta de dados
quantitativos territorializados expressando a realidade da Amazônia Legal para
diversas áreas temáticas (...)". Ufa!, agora vai.
Elefante branco
Hoje e sempre como diria Lula, "o dado concreto" é que o prédio ocioso e de arquitetura de
gosto duvidoso começou a ser esvaziado e entrar em decadência junto com a
debacle da autarquia federal que foi sinônimo de poder e influência na região entre a sua criação nos anos 1960 (governo Castello Branco) e o seu
esvaziamento no início do século século XXI.
Do nada vira ADA
Em 2001, FHC a extinguiu e criou a Agência de
Desenvolvimento da Amazônia (ADA), que revirou Sudam no governo Lula II. O
então presidente sancionou a lei para praticamente nada e após o congresso
legislar pela sua recriação por meio da Lei Complementar 125.
Furtado o formulador
A Sudam substituiu a Superintendência do Plano de Valorização da Econômica da Amazônia (SPVEA), criada no governo Vargas em 1953. Trata-se de uma
"costela" da Sudene, a Superintendência do Desenvolvimento do
Nordeste, instalada no governo Juscelino Kubitschek e formulada pelo economista
Celso Furtado, primeiro pensador econômico de esquerda brasileiro com grife de
doutorado em Sorbonne, onde viria a lecionar por décadas.
Planejamento
Autor do clássico "Formação Econômica do Brasil", natural de Pombal,
no alto sertão paraibano, entre outras façanhas, Furtado foi o criador do
Ministério do Planejamento em 1962, durante o governo João Goulart, pasta da
qual foi o primeiro ministro a chefia-la, quando apresentou o Plano Trienal.
Fantasia desfeita
Se Formação Econômica do Brasil é considerada sua principal obra, o
economista escreveu outros dois livros marcantes por unirem teoria e efeito
prático no cânone do pensamento econômico brasileiro: "A Fantasia
Organizada" e "A Fantasia Desfeita".
Obras
As obras traçam a trajetória intelectual, as influências do pensamento
econômico de Furtado e o caminho de onde viriam os recursos (renúncia fiscal)
responsáveis por financiar o desenvolvimento do Nordeste, via Sudene,
semelhante ao que seria destinado à Sudam, por meio dos empreendimentos nos
estados membros da Amazônia Legal.
CEPAL
Após seu doutorado em Sorbonne, em 1949 o paraibano
trabalhou na Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL),
organismo ligado à ONU com sede no Chile, onde formulou o livro que serviria de
teoria da implementação das duas autarquias, "A Fantasia Organizada".
Keynes
Ali o paraibano já era um dos inúmeros economistas influenciados pelo
pensamento do inglês John Maynard Keynes, grande estrela econômica do século
XX, formulador do que viria a ser o "New Deal" e dos princípios
teóricos do estado indutor e provedor da economia. O segundo volume, "A Fantasia Desfeita", trata-se da sua frustração pelos equívocos na condução da primeira cria, a Sudene.
Bretton Woods
Em 1944, quando o mundo já previa a derrota dos alemães na
Segunda Guerra Mundial, Lord Keynes foi a grande estrela da Conferência de
Bretton Woods, em New Hampshire, EUA, quando foram definidos os marcos
macroeconômicos do Ocidente (e do mundo) no pós-guerra.
SUDAM, SUDENE, BASA, BNDES
Fruto do do pensamento keynesiano dominante, o Brasil segue
até hoje seu triunfalismo ancorado em voos de galinha desde 1980, excetuado o
período do primeiro mandato de FHC (1995-1998), com o fim da hiperinflação, a
estabilidade da moeda, as reformas estruturais e o boom
desperdiçado das commodities no Lula
I (2003-2006).
PT e Ciro
Sudam, Sudene, Basa, BNDES e outros paquidermes jurássicos
nasceram e/ou foram desvirtuados dessa matriz. Fora do círculo petista, Unicamp
e USP, Ciro Gomes talvez represente a corrente dos keynesianos lustrados e
empolados mais radicais locais, ainda que agonizando lentamente, mas nunca em
extinção no Bananão.
Décadas Perdidas
Foram três décadas perdidas pela nação, as de 1980, 1990 e de 2010. Um prejuízo
social e econômico cujas consequências se refletem nas esquinas e seus
pedintes, taxas de desemprego, estagnação econômica, corrupção endêmica, desperdícios, obras
inacabadas, impunidade, falta de segurança jurídica, péssimos índices de
desenvolvimento humano, concentração de riqueza e muito mais. Ou menos. Depende do ângulo.
E a SUDAM?
Inepta, insípida, inodora e esvaziada, a Sudam virou cabide de emprego e prêmio de consolação ao ex-senador Paulo Rocha, trapaceado pelo próprio diretório partidário. Aparelhada pelo PT também à indicados de partidos que entendem tanto de desenvolvimento regional quanto corte e costura e linhas aéreas para Saint Barth.
Agoniza
Um órgão que era para ser de fomento agoniza a olhos vistos lenta e sadicamente oferecendo aos inquilinos do poder, atualmente, serviços de coworking, emissão de press releases com textos tanto empolados quanto estéreis dignos de um think tank cucaracho, embusteiro e bananeiro. Tristes trópicos. Desvirtuado Furtado.
Excelente domingo.