SUDAM: sonho frustrado do keynesiano Celso Furtado virou um monumento ao fracasso.

19/08/2023 10:17
SUDAM: sonho frustrado do keynesiano Celso Furtado virou um monumento ao fracasso.

Melancolia sem fim

Em meio a realização da Cúpula da Amazônia foi divulgada a cessão da sede da Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) como local para os despachos de chefes de estado que viriam para o evento, bem como aos ministros do governo Lula e demais autoridades com presenças confirmadas, os presidentes do BNDES, Aloizio Mercadante, e do Ibama, Rodrigo Agostinho, incluídos.

Coworking, Think Tank and press releases

Cercada de inutilidade e anglicismos por todos os lados, a desimportante Sudam, após suas mofadas salas e demais dependências servirem de coworking para o time de Lula e quem mais desejasse, eis que o comando da autarquia manda distribuir press releases à imprensa anunciando, com o complexo de superioridade que ainda lhe é caro, uma parceria com grifes como a ONU, por meio do PNUD e do Instituto Publix, contendo dados sobre a região. Virou think tank. 

Onde está o dinheiro 1?

Enquanto isso, trabalhadores, estudantes, acadêmicos, empresários, industriais, ribeirinhos, profissionais liberais, religiosos, investidores, empreendedores individuais e o agro permanecem querendo saber: e sobre desenvolver a região econômica e socialmente?

Resposta

Caso a resposta seja: "Aí é com o PAC"… cabe a tréplica: - E se o programa publicitário, ops de governo, somente investir (igual ao Lula II) 09% do previsto em infraestrutura? Resposta: lascou-se.

Onde está o dinheiro 2?

Calma, gente. Poxa. O trabalho digno de Nobel selecionou 373 indicadores priorizando os dados disponíveis nos estados e municípios - que massa! Quarenta servidores da Sudam foram orientados por professores do PNUD, com consultoria do Instituto Publix.

Trabalhos

Os dedicados especialistas e técnicos trabalharam desde março no colosso. Enquanto isso quem produz, paga imposto e rala segue perguntando: cadê o desenvolvimento? Onde está o dinheiro? Qual o orçamento para a Sudam entre 2023 e 2026?

Políticos

Para além da ocupação de cargos, o que dizem os políticos paraenses sobre este estado de coisas? A SUDAM serve para algo conectado com o bem comum da população regional? Se sim, qual ou quais?

Indução

Afinal, até os respeitáveis técnicos contratados para limpar as poluídas e sujas splits da autarquia sabem que, desde que foi criada e recriada, a sua natureza jurídica (até no nome de batismo) fala em desenvolver a Amazônia.

Mais do mesmo…

Aí vem um diletante nomeado e aparelhado na extensa teia do "Cabidão do Lulão", com o ex-sindicalista e senador Paulo Rocha à frente, e diz que os "dados com dashboard Badam", um painel com indicadores georreferenciados para a Amazônia Legal, "blá blá blá, blá blá blá, blá blá blá blá blá blá'...

… E continua

 Os cínicos de sempre dirão: "Tenham um pouco de paciência. O processo de construção da ferramenta de seleção e parametrização de indicadores teve como base coleta de dados quantitativos territorializados expressando a realidade da Amazônia Legal para diversas áreas temáticas (...)". Ufa!, agora vai.

Elefante branco

Hoje e sempre como diria Lula, "o dado concreto" é que o prédio ocioso e de arquitetura de gosto duvidoso começou a ser esvaziado e entrar em decadência junto com a debacle da autarquia federal que foi sinônimo de poder e influência na região entre a sua criação nos anos 1960 (governo Castello Branco) e o seu esvaziamento no início do século século XXI.

Do nada vira ADA

Em 2001, FHC a extinguiu e criou a Agência de Desenvolvimento da Amazônia (ADA), que revirou Sudam no governo Lula II. O então presidente sancionou a lei para praticamente nada e após o congresso legislar pela sua recriação por meio da Lei Complementar 125.

Furtado o formulador

A Sudam substituiu a Superintendência do Plano de Valorização da Econômica da Amazônia (SPVEA), criada no governo Vargas em 1953. Trata-se de uma "costela" da Sudene, a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste, instalada no governo Juscelino Kubitschek e formulada pelo economista Celso Furtado, primeiro pensador econômico de esquerda brasileiro com grife de doutorado em Sorbonne, onde viria a lecionar por décadas.

Planejamento

Autor do clássico "Formação Econômica do Brasil", natural de Pombal, no alto sertão paraibano, entre outras façanhas, Furtado foi o criador do Ministério do Planejamento em 1962, durante o governo João Goulart, pasta da qual foi o primeiro ministro a chefia-la, quando apresentou o Plano Trienal.

Fantasia desfeita

Se Formação Econômica do Brasil é considerada sua principal obra, o economista escreveu outros dois livros marcantes por unirem teoria e efeito prático no cânone do pensamento econômico brasileiro: "A Fantasia Organizada" e "A Fantasia Desfeita".

Obras

As obras traçam a trajetória intelectual, as influências do pensamento econômico de Furtado e o caminho de onde viriam os recursos (renúncia fiscal) responsáveis por financiar o desenvolvimento do Nordeste, via Sudene, semelhante ao que seria destinado à Sudam, por meio dos empreendimentos nos estados membros da Amazônia Legal.

CEPAL

Após seu doutorado em Sorbonne, em 1949 o paraibano trabalhou na Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), organismo ligado à ONU com sede no Chile, onde formulou o livro que serviria de teoria da implementação das duas autarquias, "A Fantasia Organizada".

Keynes

Ali o paraibano já era um dos inúmeros economistas influenciados pelo pensamento do inglês John Maynard Keynes, grande estrela econômica do século XX, formulador do que viria a ser o "New Deal" e dos princípios teóricos do estado indutor e provedor da economia. O segundo volume, "A Fantasia Desfeita",  trata-se da sua frustração pelos equívocos na condução da primeira cria, a Sudene.

Bretton Woods

Em 1944, quando o mundo já previa a derrota dos alemães na Segunda Guerra Mundial, Lord Keynes foi a grande estrela da Conferência de Bretton Woods, em New Hampshire, EUA, quando foram definidos os marcos macroeconômicos do Ocidente (e do mundo) no pós-guerra.

SUDAM, SUDENE, BASA, BNDES

Fruto do do pensamento keynesiano dominante, o Brasil segue até hoje seu triunfalismo ancorado em voos de galinha desde 1980, excetuado o período do primeiro mandato de FHC (1995-1998), com o fim da hiperinflação, a estabilidade da moeda, as reformas estruturais e o boom desperdiçado das commodities no Lula I (2003-2006).

PT e Ciro

Sudam, Sudene, Basa, BNDES e outros paquidermes jurássicos nasceram e/ou foram desvirtuados dessa matriz. Fora do círculo petista, Unicamp e USP, Ciro Gomes talvez represente a corrente dos keynesianos lustrados e empolados mais radicais locais, ainda que agonizando lentamente, mas nunca em extinção no Bananão.

Décadas Perdidas

Foram três décadas perdidas pela nação, as de 1980, 1990 e de 2010. Um prejuízo social e econômico cujas consequências se refletem nas esquinas e seus pedintes, taxas de desemprego, estagnação econômica, corrupção endêmica, desperdícios, obras inacabadas, impunidade, falta de segurança jurídica, péssimos índices de desenvolvimento humano, concentração de riqueza e muito mais. Ou menos. Depende do ângulo.

E a SUDAM?

Inepta, insípida, inodora e esvaziada, a Sudam virou cabide de emprego e prêmio de consolação ao ex-senador Paulo Rocha, trapaceado pelo próprio diretório partidário. Aparelhada pelo PT também à indicados de partidos que entendem tanto de desenvolvimento regional quanto corte e costura e linhas aéreas para Saint Barth.

Agoniza

Um órgão que era para ser de fomento agoniza a olhos vistos lenta e sadicamente oferecendo aos inquilinos do poder, atualmente, serviços de coworking, emissão de press releases com textos tanto empolados quanto estéreis dignos de um think tank cucaracho, embusteiro e bananeiro. Tristes trópicos. Desvirtuado Furtado.

Excelente domingo.

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