Todo mundo quer o Lula

Daniel Santos, e agora Celso Sabino, olham para 2026 piscando para o velho candidato em seis disputas desde a volta das eleições diretas no Brasil.

22/05/2024 12:00
Todo mundo quer o Lula

No final de 2022, quando tudo era flores para Lula, na cerimônia de final de ano em que anunciou o ministério completo, ao revelar o nome do ministro das Cidades, o presidente eleito se referiu a Jader Barbalho Filho como filho e irmão de dois companheiros dele e do PT. Ou seja, no Pará, dos muros petistas do diretório estadual para fora, o MDB-PA era o aliado mais importante, e a própria nomeação do ministro Jader Filho, um indicativo disso.  E do tamanho do prestígio do seu irmão, o governador Helder, com Lula e o MDB nacional, após eleger uma bancada de nove deputados federais, além do senador petista que compôs a chapa consigo, entre outros menos votados.  Formalmente, a aliança com Lula teve início em 2005, durante a aflição dele no auge do Mensalão, e segue até hoje.  Dito isso, incluído o PT e os demais partidos de esquerda aliados históricos, ou quase, de Lula em âmbito nacional, tipo PC do B, PSB, PDT, PSOL, PV, et al, que se resignassem à insignificância respectiva de cada um, e vida que segue. Rompimento

Aí chegou 2024 e com ele o rompimento mais anunciado e esperado da política paraense desde, pelo menos, a última década. E com ele um duelo nos bastidores do poder, pela imprensa e redes sociais: Helder x Daniel ou vice-versa. Maquiavel do Maguari 

Para além das notícias sobre a saúde municipal e seu vertiginoso crescimento financeiro, após piscar, sair pra tomar sorvete, pedir e/ou aceitar em namoro o bolsonarismo, eis que o dr. Daniel dá um cavalo de pau e aparece filiado ao PSB. Isso mesmo que todo mundo já sabe: ele assinou a ficha do partido de Miguel Arraes, o Socialista Brasileiro, endereço atual do ex-tucano histórico e vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, o “número 2”. Aquele mesmo que foi quatro vezes governador de São Paulo e duas outras derrotado para o cargo de Lula, responsável, aliás, pela sua primeira derrota, em 2006.  Das afinidades eletivas

Pelo que dizem, vazam e plantam, o “Picolé de chuchu” não só abonou a ficha de filiação do doutor, como teria-lhe prometido mundos e fundos.  Afinal, pelas evidências e modus operandi das entranhas políticas, coincidências à parte, como diz aquele adágio italiano, se non è vero è ben trovato.  E bem sabe o gentil e nada incauto leitor, que as afinidades entre ambos são bem maiores do que o fato de serem médicos e neossocialistas. Sabe como é, né, Alckmin é o atual vice de Lula. Helder, o adversário agora declarado de Daniel Santos, aqui e ali é lembrado como um nome forte para compor a chapa com o atual 01 em 2026, tanto quanto outros petistas e emedebistas têm sido especulados… A possibilidade de ser rifado, tratado como descartável ou desprovido de serventia não é bem-vinda para ninguém e não seria diferente com o neo aliado e quase decisivo parceiro de chapa na minúscula diferença que deu a vitória a Lula sobre Jair Bolsonaro em 2022. Centrão e Celso Sabino 2026

Com notórios impactos locais, de acordo com afirmação do ministro do Turismo Celso Sabino em entrevista ao Globo Online, na segunda-feira, 20, o seu atual partido, União Brasil (UB), deverá ser somado ao condomínio lulopetista e à futura coligação, (quase) de mala e cuia. Por que será?

Sabino, como Daniel, sabe da força de Helder com Lula e os investimentos que serão alocados para Belém com a realização da COP-30 ano que vem.  Os movimentos e cálculos recentes dele e do dr Daniel demonstram que os dois querem surfar nessa onda, ao mesmo tempo em que aparentam temer enfrentá-la, no caso, decerto por medo das máquinas federal e estadual. E juntas. Como integrante do governo federal, o ministro lançou no dia 10 de maio, na Sudam, uma linha de crédito de mais de 100 milhões de reais para a COP-30.  Teve ao seu lado o superintendente da amorfa e inodora autarquia, o velho parça de Lula e ex-senador Paulo Rocha. Edmilson Rodrigues era outro presente na cerimônia. Sobre a eleição de outubro em Belém, seu partido, de matriz liberalizante na economia, já foi citado tanto como provável parceiro de chapa do leninista-marxista-castrista-stalinista Psol, quanto do MDB.  Após a entrevista ao “Globo”, restou claro que o UB, junção do velho PFL com o nanico que ficou rico com a eleição de Bolsonaro em 2018, o PSL, está ainda mais dividido do que somente pela briga incendiária entre os pernambucanos e ex-melhores amigos Luciano Bivar e Reinaldo Rueda, ex e atual presidente da legenda. Caiado irado Não precisa morar em Brasília ou Goiânia para imaginar a ira do governador Ronaldo Caiado com a afirmação de Sabino sobre um apoio a Lula do seu partido em 2026. Inimigo declarado de Bolsonaro, o Grupo Globo pouco se importou com os desdobramentos internos no partido após as declarações do entrevistado. Matéria e ministro colocaram fogo no parquinho e tudo estava no cálculo - pelo  menos no dele - e que venham as consequências.  De um lado, exterioriza-se a ingerência de Arthur Lira, do PP, nos destinos do UB. Padrinho de Sabino, o alagoano, ao lado do amapaense Davi Alcolumbre e o baiano Elmar Nascimento, pré-candidato à sua sucessão na presidência da Câmara, formam a trinca que começou a ser cooptada pelo governo 24 horas após a eleição de Lula. Alcolumbre foi o primeiro a aderir. Após tirar a camisa amarela de Bolsonaro, o senador amapaense vestiu a vermelha do PT e colocou o conterrâneo, o enroladíssimo na justiça e ex-governador Waldez Góes, no Ministério do Desenvolvimento Regional.  Do outro do córner, os membros do partido que, como Caiado, querem herdar parte ou todo o legado dos eleitores bolsonaristas, órfãos do capitão pelo menos até as próximas eleições presidenciais. Dentre eles, tome-se como exemplo o jovem deputado Kim Kataguiri, que luta para ser candidato à prefeito de São Paulo; o herdeiro do Carlismo, secretário-geral do UB, ACM Neto, seu sucessor na prefeitura de Salvador, Bruno Reis, candidato à reeleição contra o PT e seus aliados, entre vários outros.  Incluídos parlamentares, prefeitos e candidatos em regiões do agro como Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul; interior de São Paulo, Triângulo Mineiro e demais estados da região Sul, todos refratários historicamente ao PT.  A direita no Pará

Definido pelos seus adversários como sendo de “extrema direita”, o deputado federal Eder Mauro quase monopoliza o caminhão de votos bolsonaristas na capital paraense. Um E.T. que descer em Belém amanhã vai ter de aprender que nesta parte do Bananão, a direita pode ser vice da extrema esquerda, no caso de casamento entre PSOL com UB. Da mesma forma, ele terá de se acostumar com a história escabrosa (e burra) do mesmo UB quando era DEM, ocorrida em 2018. Naquele ano, candidato ao governo do partido “de direita”, esnobou os milhares de votos em Bolsonaro no 2º turno, declarando neutralidade e ajudando ao poste Fernando Haddad a vencer no estado, o único em que Bolsonaro perdeu em toda a Amazônia.  Quatro anos depois da queda veio o coice. Márcio Miranda, o candidato derrotado ao governo naquele ano, saiu por aí embarcado numa candidatura a deputado federal e perdeu feio, mostrando-se menor do que pensava que era. Ele, que poderia ser senador em 2018 quase na tranquilidade, foi apresentado ao ostracismo novamente. Seu padrinho com origem na “esquerda”, Simão Jatene, que deve ter feito cara de nojinho em 2018 só de pensar em ambos apoiarem Jair Bolsonaro, tapou as narinas e, inelegível em 2022, bolsonarizou, para perplexidade de muitos. “Ou não”, como diria Caetano. Moral da história em 2024 sobre 2026: Se a vaca do Alckmin for pro brejo e persistir o sonho governamental do dr Daniel, ele larga o socialismo igual o abraçou. Sim, deixa de escutar a “Internacional” e cai nos braços do capitão, da 1ª dama e de Éder Mauro como se não houvesse amanhã e muito menos ontem. Na poligamia bolsonarista, Jatene pode renascer das cinzas. E Márcio Miranda, quem sabe volta para Alepa - onde já foi rei - ou vira o 02 do seu colega médico, aquele nascido em Açailândia e radicado na simpática Ananindeua, o ambicioso e ora lulista alckimista, dr Daniel. Todo mundo odeia o Chris

Nos paradoxos da política, ainda que pesquisa recente tenha apontado que 55% do eleitorado é contra a reeleição de Lula, no Pará, o estado que pode ser definitivamente um dos gigantes do agro nacional, está longe de ter políticos à altura dos desafios para conquistar essa maioria que aguarda por lideranças de direita.   Há uma avenida gigante no estado para a conquista dos votos em potencial que estão reprimidos pela falta de representantes que preencham o vazio de quem está sem poder votar no líder que galvanizou para si o eleitorado desse espectro.  O dr Daniel sabe disso, daí acender uma vela pra dupla Lula-Alckmin e outra pro Eder e o vereador Zezinho Lima “doa a quem doer”, os emissários com a turma do PL no seu quintal. Se as coisas derem certo para ele até lá, na esquina de 2025-2026, após a COP-30 e antenado com os acontecimentos do momento, Daniel Santos vai bater o martelo por qual lado navegar: se como neossocialista ou novo bolsominion. Tudo vai depender dos ventos, águas e rios por onde vai seguir a barca dele quando sair pelo mundo afora a partir do Maguari.  Quando 2026 chegar Até lá, Celso Sabino e Ronaldo Caiado mostrarão o que vai restar da junção do DEM com o PSL. Em relação à PMB, se o partido vai ser par do Normando (Helder) ou do Edmilson, logo mais se saberá. Como diria seu novo chefe, “o dado concreto”, é que do Ministério ele não quer sair. E o governador fica só na espreita, duelando com o Daniel por todo o Pará, e extra-oficialmente com Alckmin, Renan Filho, Tebet, Haddad, Costa, jogando com o tempo e torcendo para que a COP seja o sucesso sonhado por ele e o presidente.  Aliás, o clã Barbalho, lembrando novamente, ontem, hoje e amanhã com Lula lá. 


 

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