Na área do marketing político e das estratégias nas campanhas eleitorais no Brasil, está para surgir um profissional cuja
competência é capaz de torná-lo uma quase unanimidade quando o assunto é
vencê-las, ainda mais fazendo bonito, tal e qual um Duda Mendonça.
Tirado quase que a fórceps da cena principal da política nacional após as revelações do escândalo do Mensalão, em 2005, o publicitário baiano morto em 2021, às vésperas de completar 78 anos, foi lembrado pelos próprios políticos como "o melhor" na área da comunicação e marketing político por nada menos do que 39% dos entrevistados, quase três anos após a sua morte.
A pesquisa foi realizada pelo Instituto Informa, sediado em São Paulo, e divulgada recentemente. O estudo foi feito com 222 (duzentos e vinte e dois) integrantes do Congresso Nacional, entre deputados e senadores.
Duda Mendonça obteve a ampla liderança entre as citações, seguido pelo ex-pupilo e também baiano João Santana, que
teve 15,7% da preferência, cerca de 20 pontos a menos que seu ex-chefe. Profissional da nova geração, o paulista Marcelo
Vitorino ficou em terceiro lugar com 9,3% dos votos.
Outro dado importante captado:
94% desses congressistas disseram contar com profissionais da comunicação em
seus gabinetes.
Apesar de ter-se celebrizado nacionalmente por traçar as estratégias vencedoras da campanha à prefeitura
de São Paulo de Paulo Maluf, em 1992, depois de cinco derrotas eleitorais
seguidas - inclusive para a própria prefeitura quatro anos antes -, ele se
tornou conhecido de vez pelo Brasil dez anos depois, já como marqueteiro de
outra peleja vitoriosa após sucessivos fracassos: a eleição de Lula em 2002.
Duda Mendonça se notabilizou
pela criação de peças inovadoras e sem conexão com estratégias tipo,
padronizadas. Autenticidade e apostas que se mostravam certeiras eram duas das suas marcas registradas.
Revelados os bastidores da forma de pagamento e volume de dinheiro pago a eles,
a figura dos "marqueteiros" saiu um tanto manchada após o
"Mensalão", o que custou a Duda, inclusive, a perda do protagonismo
da cena e a prisão, fato semelhante ao que ocorrera com o segundo mais admirado
pelos congressistas após o "Petrolão", João Santana.
Numa espécie de
"rebranding" da atividade, hoje em dia os antigos profissionais
passaram a ser chamados de
"estrategistas políticos", ainda que Duda assim já se definisse, o
que não deixa de ser justo, e são merecidamente reconhecidos como profissionais
fundamentais nas campanhas eleitorais no país.
Com efeito, Duda Mendonça
conseguiu ser brilhante sendo instintivo, emotivo não apelando para
sentimentalismos baratos e incisivo na defesa dos méritos dos seus clientes ao
ponto de convencê-los que eles, candidatos que o contratavam, eram os mais
preparados para os desafios que precisavam ser enfrentados e vencidos em benefício da maioria dos eleitores.
Casos e Coisas
Em 2001, ele lançou "Casos e Coisas", um livro em que fala dos bastidores do mundo político, de processos criativos, pesquisas, família, dá dicas e caminhos que devem ser seguidos por seus assessorados e clientes, entre outras revelações e convicções firmadas em anos de dedicação à sua atividade profissional.
Segue abaixo um (primeiro) decálogo escolhido discricionariamente, com vistas a clarear estratégias de campanhas que, apesar do advento das redes sociais, das milícias online, das fake news, e agora até da inteligência artificial sendo usada para incriminar adversários, permanece atual, sendo utilizado, como se vê entre os políticos que o consideram, apesar de morto, o melhor entre os melhores.
1 - Seja objetivo e
entre para ganhar
Jogar claro, aberto,
colocando as coisas nos seus devidos lugares, desde o princípio, de um modo
bastante objetivo;
2 - Faça um
"diagnóstico"
Primeira tarefa é
reunir informações relevantes fundamentadas em pesquisas quali e quantitativas,
fazer entrevistas de profundidade, análises da situação política, quadros
comparativos com os principais adversários, de modo que se chegue às primeiras
conclusões;
3 - Conheça de perto
o eleitor
Quem vota e quem pode
votar no seu candidato, deixando de lado quem o rejeita; ter como preocupação
não perder votos e, para tanto, se valer de pesquisas "qualitativas".
As "quali" conseguem ir mais fundo na alma do eleitor, possibilitando
conhecer com maior intimidade o pensamento de jovens, idosos, das donas de
casa, profissionais liberais, empresários, donos e frequentadores dos botecos
das esquinas, professores, jogadores de futebol, de todos os extratos sociais e
regiões, afinal. Em seguida, mapear tudo relacionado aos indecisos. A prática
possibilita saber, "razoavelmente", prós e contras do candidato;
4 - Pesquisas
Pesquisas são números e dados coletados de forma fria, sem emoção.
Invariavelmente, quem as responde o faz com a cabeça. Todavia, na hora de
votar, o coração também influencia. É por isso que, de vez em quando, ocorrem
modificações aparentemente inexplicáveis, nem sempre identificadas, mas que
acontecem em razão de fatos novos;
5 - Pesquisas quantitativas (quantis)
Têm o objetivo de conhecer e
quantificar preferências, aspirações, medos e anseios de um determinado grupo
de pessoas, que pode ser uma escola, cidade, região, estado e até mesmo um
país;
6 - Pesquisas Qualitativas (qualis)
Esta modalidade tem como objetivo
conhecer mais a fundo o pensamento de um determinado grupo de pessoas,
representativo de uma determinada camada da população, com metodologia
inteiramente diferente da empregada nas "quantis". Sua metodologia é
muito antiga e sempre foi bastante usada para testar produtos;
7 - Jingle, um discurso musical
Jingle é um discurso musical dirigido
a um eleitor. Se for bem-feito, vai chegar ao coração dele, até mesmo antes de
ter passado pela sua cabeça. O eleitor não tem de sair por aí cantando o meu
jingle. Tem é que incorporar, absorver as mensagens e argumentos do candidato;
8 - Debates
O debate eleitoral, na televisão, é
show. Mais precisamente, tem muito a ver com teatro - não só no Brasil, mas em
todos os lugares do mundo. (...) Desconhecer essa natureza é correr riscos de
cometer equívocos básicos, elementares. O que fica de um debate na cabeça do
público é, muitas vezes, somente um detalhe. Uma frase de efeito, uma
formulação clara e feliz, uma jogada desconcertante, uma postura precisa, uma
atitude, um gesto. É o momento mais temido por todos os candidatos, mesmo que
eles não confessem isso claramente. O que o público espera de um candidato, num
debate, é um ser humano sincero, verdadeiro, equilibrado. Se você ataca
sistematicamente o seu adversário, você perde a simpatia;
9 - Aprenda com o outro
Aprendi muito fazendo e olhando os outros fazerem. Como nunca gostei de
errar, sempre estive muito atento ao que os outros faziam. Se desse certo, eu
aprendia uma lição; se desse errado, aprendia outra;
10 - Casos, coisas, conselhos e lições
Marketing e propaganda são coisas bem diferentes. Toda tecnologia que
utilizo e as experiências que venho acumulando me mostram, sistematicamente,
que meu poder é limitado. Sou apenas e tão-somente um importante instrumento de
apoio que potencializa fatos, projetos, ideias e soluções. (...) Nunca se
engane: meras jogadas de efeito não se sustentam, não dão certo por muito
tempo. (...) O marqueteiro é um estrategista e não um professor universitário
ou um cientista político. Ele tem que ter senso de oportunidade e competência para transformar pensamentos,
obras e ações em gestos simbólicos.
PS1: PF prende
mandantes do caso Marielle Franco. Irmãos e autoridades públicas, um
conselheiro de Tribunal de Contas e um deputado federal, em parceria com um
delegado de polícia são os acusados.
PS2: Na estreia
de Dorival Jr na seleção, time vence a Inglaterra em Wembley com destaque para
os jovens Vini Jr. e Endrick.
PS3: Há
esperança.
PS4: Continuam as plantações de notinhas, "análises" cobertas de
interesses, intrigas prenhes de mágoas e escassas de objetividade por razões
óbvias: o jogo só vai começar, valendo, em agosto. Até lá, com vocês um pouco do
inesquecível mago (para os políticos).
PS5: Um abençoado domingo de Ramos, amém.