Memória: embaixador João Clemente Baena Soares sai da vida e entra na História

02/07/2023 13:46
Memória: embaixador João Clemente Baena Soares sai da vida e entra na História

(...) o sucesso no Brasil é

uma ofensa pessoal

Tom Jobim (1927-1994)


Na segunda metade do século XX pontificava no Pará a lenda de que jamais o estado tivera entre os seus naturais um aprovado no Itamaraty. Ledo engano.

Para não dizer que, no mesmo período na carriere pela qual ingressavam os aprovados nas provas do Instituto Rio Branco, um paraense fora um dos seus mais destacados integrantes.

Mais ainda: o único até hoje a ocupar o cargo máximo da Organização dos Estados Americanos (OEA), sendo reconduzido para outro mandato como secretário-geral, tamanho o reconhecimento pelo papel que cumprira com louvor e excelência entre 1984 e 1994.

João Clemente Baena Soares faleceu, aos 92 anos, na cidade do Rio de Janeiro, em 07 de junho último, após uma vida plenamente realizada.

Para o atual chanceler brasileiro, embaixador Mauro Vieira, Baena Soares fora “um mestre da diplomacia”, título que dera ao artigo (obituário) que escrevera sobre ele em O Globo, um dia após o seu falecimento.

No texto, Vieira se autoproclamou privilegiado e um sujeito de sorte pela ventura de com o paraense ter contado como amigo e conselheiro, classificando sua carreira diplomática como nada menos que brilhante, em seus mais de 40 anos de serviços diplomáticos.

O ministro das Relações Exteriores também reconhecera Baena Soares como “dono de enorme capacidade negociadora e refinada capacidade de análise”.

 Ápice da carreira na OEA 

 Ainda hoje, a passagem de Baena Soares como secretário-geral da OEA é considerada marcante. Seu papel à frente do organismo enquanto sua função de instituição observadora de pleitos eleitorais no continente americano é considerado impecável para a consolidação da organização em relação a esta prerrogativa.

No cargo, o diplomata paraense também fora reconhecido como um habilidoso negociador de soluções diplomáticas e pacíficas, primeiro em toda a América Central, nos anos 1980, e no Haiti, a partir da década seguinte.

Ao cabo e ao fim, Baena Soares imprimira em sua passagem a imagem de impecável condutor na consolidação de democracias locais. 

Belém e a Assembleia Geral da OEA

Tomei conhecimento da existência deste grande diplomata e estadista paraense aos 22 anos, quando, no seu último ano como secretário-geral da OEA, em sua homenagem, a assembleia geral da Organização fora realizada em Belém, terra natal dele.

Naqueles dias, as matérias dos periódicos locais e nacionais falavam do evento e da emoção do paraense durante a sua realização, salvo engano ocorrida no período do Círio de Nazaré, o que lhe deixara profundamente emocionado, oportunidade na qual após refestelar-se com a culinária local, sentira-se mal de tanto que aproveitara cada momento em solo paraense.

O embaixador Baena Soares também cumprira trajetória considerada brilhante em sua carreira no Itamaraty, onde ocupara o posto mais alto na hierarquia da carreira diplomática, o cargo de secretário-geral das Relações Exteriores.

Tom Jobim e Baena Soares

Se a realização, em 1994, da “Assembleia Geral da OEA” fora seu gran finale no posto máximo da instituição multilateral - uma justa homenagem -, com ampla cobertura da imprensa continental,  infelizmente não se pode dizer o mesmo em relação ao seu falecimento, que passara em branco pela mídia local, quase três décadas depois.

Incontinenti, não fora à toa a epígrafe deste texto citando o genial maestro Tom Jobim, quando confrontado por uma correspondente internacional sobre os fiascos das vendas de seus discos no Brasil, uma vez confrontados aos lançamentos da Jovem Guarda, naquele início de anos 1970.

Dois gigantes, ambos se encontraram na curva da falta de reconhecimento entre seus conterrâneos, ao tempo em que o ocidente livre os reconhecera como titãs, cada um em sua área.

Tal e qual a música de Jobim, o legado de Baena Soares vive em razão dos seus feitos magníficos.

Aqui, o nosso modesto reconhecimento e aplausos eternos.

E que venha a COP 30.


Toni Remigio é jornalista e publisher de O Amazônico

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