O caso Basa (1ª parte)

29/10/2023 08:17
O caso Basa (1ª parte)

Lamentavelmente, atualmente, interessados em busca de crédito menos extorsivo para os seus micros ou pequenos negócios que vivem e/ou investem em território amazônico e, com este fim, batem às portas do Banco da Amazônia, o Basa, invariavelmente retornam pessimistas, céticos ou contrariados.

 Mentira? Então prove o contrário. 

 Falo dos interessados sem apadrinhamento político, onde pontificam os verdadeiros donatários das facilidades encontradas nas fontes de financiamento e recursos na área pública nas três esferas de poder no Brasil.

 Pior é passar a vista lendo sobre história, missão e perfil de instituições de crédito como o Basa, após décadas de atuação e diminuição da sua importância passadas cada uma delas, exceto por lapsos de protagonismo em favor do cidadão amazônico comum, ano após ano desde a sua criação.

 País que atravessou mais de meio século com crises econômicas; que passou por quatro planos econômicos e respectivas desvalorizações da moeda até conseguir domar uma hiperinflação devastadora em suas consequências; que teve décadas de estagnação e períodos de recessão, o Brasil “não é para principiantes”, já dizia um informe que circulara outrora.

 Com seu histórico e eterno excesso de burocracia, escândalos de corrupção e outros males da nação, o país não ajuda ou induz que se efetive o efeito prático da missão do Basa, um banco sob jurisdição da União Federal, sobretudo a quem mais precisa.  

 Entra década, sai década e a instituição perde importância e protagonismo na região. Aos paraenses, cuja capital é sede da matriz, sua presença beira a insignificância.

 O imponente e, aparentemente, sucateado prédio localizado na área mais nobre da cidade é um símbolo da sua inutilidade socioeconômica local. Um monumento ao desperdício de dinheiro público.

 É o “Banco da Amazônia", mas, tamanha a sua insipidez institucional na vida dos belenenses, que também poderia ser sede do Itaú Unibanco, Bradesco, Santander, BTG Pactual, XP Investimentos ou do Citibank, o Citi, e nada mudaria. 

 Isso para não falar de outros dois inertes paquidermes quando o assunto é desenvolver a Amazônia e incentivar o comércio, indústria e serviços locais sem falir 95% da carteira de clientes, chamados Banco do Brasil (BB) e BNDES.

 Sobre a casa bancária localizada na esquina da avenida Presidente Vargas com a Rua Carlos Gomes, sua importância é tão pouca, que até uma mudança da sede para Manaus, mais um dos sonhos de consumo dos implicantes vizinhos da Amazônia Ocidental, talvez nem fosse sentida.

 Se isso acontecesse, a ferida decerto doeria mais pela confirmação da sina que o Pará tem carregado sobre ser a “terra do já teve”. Dito isso, convém registrar breves dados e outras considerações históricas:

 Nasce o banco

 Em 1942, no governo de Getúlio Vargas, o impiedoso ditador do Estado Novo (1937-1945), foi criado o Banco de Crédito da Borracha. 

 Como o nome de batismo presume, a instituição nasceu com o objetivo de financiar os seringais da Amazônia e outra finalidade nobre: abastecer os aliados no curso da II Guerra Mundial.

 A iniciativa foi fruto da venturosa influência de Oswaldo Aranha sobre seu conterrâneo gaúcho e chefe, e da assinatura dos “Acordos de Washington”, celebrados pelo Brasil um ano antes com o governo de Franklin Delano Roosevelt, presidente dos EUA. 

 Com a vitória dos países que lutaram contra a tirania de Adolf Hitler, o fascismo de Benito Mussolini e a ambição do imperador japonês, Hirohito, a missão do banco mudou. Isso se deu na alvorada da década dos 1950, por influência do keynesianismo.

 Doutrina adotada do “Plano Marshall para baixo”, no período posterior a Conferência de Bretton Woods (1944), quando o pensamento do economista inglês John Maynard Keynes prevaleceu e influenciou as decisões globais, a partir da liderança dos EUA num mundo que se bipolarizaria mais adiante.

 A política econômica formulada por Lord Keynes fundamentou e financiou desde a reconstrução da Europa destruída à atuação do “estado provedor”, indutor do desenvolvimento nacional e da atividade econômica em todos os países sob a área de influência dos americanos.

 No governo de Eurico Gaspar Dutra, em 1950, sucessor apoiado pelo velho caudilho de São Borja, a casa bancária mudou de nome e finalidade, sendo batizada de “Banco de Crédito da Amazônia”.

 Com nova denominação, a instituição dera início a sua nova missão: “fomentar as atividades produtivas da indústria, do comércio e da agricultura da região amazônica”, entre outras finalidades.

 Novamente sob a batuta de Vargas, em 1953, fora criada a alma mater do que viria a ser um dia a “Sudam”, batizada primeiro como “Superintendência do Plano de Valorização da Econômica da Amazônia (SPVEA)”. Puro Keynes de novo.

 E sobre atuação e legado?

 Em 1966, sob um novo regime de exceção, no governo Castello Branco (1964-1967), a instituição adota o nome “Banco da Amazônia” e “assume o papel de agente financeiro da política do Governo Federal para o desenvolvimento da Amazônia Legal”.

 Em 2022, o Basa completou 80 anos de atuação na região amazônica.

 Quais os legados dessa trajetória desde então para Belém, a sociedade civil e o empresariado paraense como um todo?

 Referimo-nos, cumpre repetir, aos valorosos micros, pequenos e estóicos empreendedores que ajudam a carregar o *Bananão nas costas, representam cerca de 54% do seu PIB e formam “os principais geradores de riqueza para o comércio nacional“.

 Mas poderíamos também nos referir aos indicadores sociais locais, o IDH de municípios marajoaras e outros tão pobres quanto.

 É isso que, infelizmente, passadas mais de oito décadas, permanece sendo debatido: o Basa é um banco de fomento do desenvolvimento sustentável regional ou uma casa bancária comercial?

 Pergunta-se por razões fáticas. Empíricas. Pela pura e simples carteira de serviços e condições praticadas em favor de quem dele vai à procura.

 Pelo que oferece oficialmente à massa de clientes e/ou correntistas em potencial.

 No fim das contas, o banco pratica uma política de juros, condições e garantias que é praticamente a média das  mesmas oferecidas pelas casas do ramo ditas “comerciais privadas”, multinacionais ou… estatais.

 Finalmente, do ocidente ao oriente, políticas essas que seriam consideradas extorsivas e usurárias em qualquer democracia desenvolvida ou em verdadeiro desenvolvimento. Urbi et orbi.


*Bananão é a sarcástica e merecida denominação pelo gênio do pasquiniano Ivan Lessa, para a antiga Terra de Pindorama.

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