No último dia 25 de junho, o PSDB completou 35 anos de
fundação sem ter o que comemorar. Pelo contrário.
O efeito prático da crise sem precedentes por que passa o partido rumo ao nanismo é a redução drástica do tamanho da sua bancada na Câmara dos Deputados.
O que está péssimo, pode piorar, pois o abandono e a troca de partido rondam os atuais 14 remanescentes (um a mais que o Psol). Isso pode se confirmar na próxima “janela partidária”.
A título de comparação, no início da legislatura de 1999, a 51ª, eram 99. A segunda maior bancada perdendo somente para os 105 parlamentares do antigo PFL.
Do tamanho da bancada dependem os recursos do fundo partidário, tempo ou acesso ao horário gratuito e todas as outras questões capazes de atrair políticos com mandato: cargos, poder, verbas e emendas parlamentares que irrigam interesses e redutos eleitorais.
A piauí de setembro revela que, apesar de dispor atualmente de cerca de 600 prefeitos, o número obtido em 2020 é 30% menor do que o da eleição anterior, em 2016. Quanto aos governos estaduais, o partido que chegou a comandar oito, atualmente conta com apenas três.
No exato momento em que a promissora governadora de Pernambuco, Raquel Lyra, pisca para o insaciável PSD do ex-prefeito paulistano e atual chefe da Casa Civil de Tarcísio Gomes de Freitas, Gilberto Kassab.
No Senado federal, apenas dois senadores compõem a bancada que já teve quatorze integrantes durante o segundo governo de FHC. Após perder a relevância, o partido foi retirado até da sala da liderança que ocupava desde 1988.
Guerras fratricidas
Militante de um partido mais fragmentado que o PT, eternamente envolto em guerras fratricidas, o primeiro foco da matéria da piauí quis saber “o que é um tucano hoje?”
Até ser afastado, mas não destituído da presidência do diretório nacional por decisão liminar em 1º grau, no último dia 11 de setembro, a gestão de Eduardo Leite à frente do partido vinha realizando os “Diálogos Tucanos pelo Brasil”.
De acordo com o governador gaúcho, o objetivo dos “Diálogos” seria “conversar com a militância para encontrar a espinha dorsal do partido, que passa por uma crise aguda de identidade”.
Ouvir a militância, “suas angústias” para, com base nisso, organizar-se o pensamento predominante, as “bandeiras partidárias", e como comunicá-las da melhor forma, dizia ele, segundo a matéria.
O partido como um todo, seus quadros atuantes e históricos
divergem de questões ideológicas - se são de centro-esquerda, centro,
centro-direita ou direita - e, na esteira, se devem apoiar o lulismo, o
bolsonarismo ou se opor a ambos.
Enquanto isso, o tempo passa, o partido sangra e encolhe.
Esta autofagia que não se esgota troca de personagens, mas segue promovendo a autodestruição e acabando com o protagonismo de quem comandou o país e foi o principal contraponto ao PT em quatro eleições presidenciais.
O que resta do PSDB, afinal, é um saco de gatos.
De um lado, acrescente ao raivoso prefeito de São Bernardo do Campo, Orlando Morando, autor da ação que afastou Leite, tão ou mais crítico e descrente no líder gaúcho, o ex-senador, ex-ministro da Justiça (FHC) e ex-chanceler (Temer) Aloysio Nunes Ferreira.
Candidato a vice-presidente de Aécio Neves em 2014, Aloysio parece ter esquecido o teor dos áudios do mineiro vazados em 2017, que arruinaram a sua ascendente trajetória política.
Para o paulista, as absolvições do neto de Tancredo Neves bastam para que, emulando Lula e o PT, ele parta para o ataque e se posicione novamente no centro dos debates, pois o considera o único capaz de liderar o ninho tucano.
O curioso (ou nem tanto) paradoxo do caso é o apoio de Aécio a Leite hoje e desde quando se uniram para minar a candidatura de João Dória ao Planalto, ano passado.
Para explicar a debacle tucana, o ex-senador paulista faz uma análise da agonia partidária citando primeiro os conceitos maquiavélicos “fortuna e virtù”, e seguindo sua peroração falando da tese de Lênin sobre o “cretinismo parlamentar” que, segundo o revolucionário russo, acha que a vida está resumida ao universo do parlamento.
A matéria prossegue revelando que o evento “Diálogos Tucanos pelo Brasil” surgiu a partir de sugestão de dois gurus de Eduardo Leite: Luciano Huck e Paulo Hartung. Após ouvi-lo, ambos lhe sugeriram que procurasse Irina Bullara, ex-presidente do RenovaBR.
Segundo revelou à revista, Bullara foi procurada por Leite para que o ajudasse a reconstruir o DNA do partido. A mestre em empreendedorismo reconhecida pelo Fórum Econômico Mundial como young global leader quer valer-se da inovação como forma de resgatar a autoestima tucana.
Para Aloysio Nunes Ferreira, Irina Bullara é uma “influencer”.
Tudo bem, mas, como diria Lula, “o dado concreto” é que desde 2018, quando Alckmin obteve cerca de 1/10 dos votos obtidos por Aécio em 2014, os eleitores do PSDB migraram para Bolsonaro.
A espera do 2º milagre
De lá para cá, após o apoio arrependido de Leite ao ex-presidente em 2018, tucanos “das antigas” declararam voto em Lula em 2022, enquanto outros com mandato piscam para o bolsonarismo.
No meio deles, Leite fala em “consolidar o PSDB como centro democrático do Brasil”. Às vésperas do próximo ano eleitoral, as bicadas continuam.
Atualmente, o PSDB forma uma federação com o Cidadania, antigo PPS, que um dia foi o PCB. A parceria seria “a crônica da morte anunciada”, segundo Roberto Freire, eterno presidente do partido.
Em meio aos interesses de cada um dos lados, somados às conversas sobre fusões com outros partidos, a única convergência é sobre a necessidade de candidatura própria em 2026.
Ainda que se tenha ceticismo, desdém e desconfiança de um lado e teorias, torcida, esperança e cálculos do outro, o nome que desponta como candidato é o do governador gaúcho.
Na atual conjuntura, acreditar numa vitória do PSDB em 2026 é torcer por um milagre que não acontece desde 1994. Naquele ano, a graça atendeu pelo nome de “Plano Real”.
A nova moeda foi capaz de conferir estabilidade à economia do país e dar esperança de um futuro melhor para a população brasileira.
Esperemos pelas cenas dos próximos capítulos.
PSDB no Pará
O maior líder do PSDB no Pará segue sendo o ex-governador Almir Gabriel.
Derrotado no 2º turno em 2006 para aquele que seria o seu terceiro mandato, ele morreu sem perdoar seu velho (ex) amigo e sucessor Simão Jatene, a quem responsabilizou pela derrota para a petista Ana Júlia Carepa.
Segundo Almir, governador não perdia eleição no Pará. Para ele, seu antigo pupilo teria feito corpo mole, causando sua derrota.
Ironia do destino, oito anos depois, após perder no 1º turno para Helder Barbalho, Simão Jatene virou no 2º turno e venceu uma eleição considerada perdida. Mas a fatura foi paga impiedosamente.
A utilização do “Cheque Moradia” acabou resultando em condenação no TSE, lhe tirando das eleições de 2022, o que ficou configurado como o adágio que diz: “depois da queda, o coice".
Afinal, se aquele golpe o tirou a possibilidade de participar do pleito do ano passado, em 2021, os quatro deputados da bancada tucana da Assembleia Legislativa votaram pela reprovação das suas contas de governo.
A traição política contrariou parecer prévio pela aprovação emitido pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE-PA).
A facada pelas costas também foi capaz de mostrar o quão raso e fisiológico tornara-se a maioria dos integrantes do diretório local e, pior, com mandato. Só ingratos.
Um arremedo do que já fora também em terras paraenses, o PSDB agoniza a olhos vistos na antiga casa de Almir Gabriel. Dizem as más línguas, parecendo ter esquecido o passado recente, parte do partido trabalha pelo retorno do obscuro e ambicioso prefeito de Ananindeua, Daniel Santos, expulso da legenda em 2018.
Na outra ponta, o bem informado jornalista Olavo Dutra publicou na sua coluna no portal de mesmo nome que o ex-governador e ex-tucano Jatene conversa com o líder gaúcho Eduardo Leite sobre retornar ao ninho que lhe deu tudo.
Que seus dirigentes façam suas apostas, ops, escolhas.
Sem mais.
Assinado, um ex-militante refém da burocracia (ainda) filiado.