TBTexto: Chama o Sérgio… Parte 2

Na semana passada, Paulo Silber nos apresentou seu anjo da guarda involuntário, o irmão Paulo Sérgio. Agora, ele traz à tona mais episódios dessa relação. Incluindo o dia em que o próprio Deus teve de se posicionar.

27/03/2025 14:00
TBTexto: Chama o Sérgio… Parte 2

Por Paulo Silber


Parece uma sina. Já coloquei o Sérgio, meu irmão e anjo da guarda, em muita saia-justa. Nilópolis foi só o começo (leia aqui). Hoje percebo que ele sempre esteve ali, perto de mim, protegendo-me de tudo e de todos, inclusive de mim mesmo. Em silêncio, como é do seu estilo.

No dia em que roubei o revólver do papai e afrontei um moleque de turma, na Cidade Velha, foi o Sérgio quem mais apanhou da turba enfurecida que nos perseguiu pra salvar minha vítima. Mamãe descobriu nossas costas lanhadas por golpes de cabo-de-aço e delatou pro Velho Gama. Sérgio levou o famoso cascudo do papai, daqueles que só faltam afundar nossa cabeça. Eu fui levado pra Marapanim para duas semanas de castigo. Pense num castigo bom!

No dia da vingança contra o Velho Washington, o inflexível síndico do Edifício Dom Pedro I, tínhamos bolado o plano perfeito. Naquela segunda-feira, às 22h em ponto, quando as luzes do condomínio eram apagadas, Sérgio apertaria a campainha do apartamento 202 e correria pro andar de baixo. Walmir ficaria de guarda na entrada no bloco, pra avisar se alguém aparecesse. 

Caberia a mim - agachado no lance da escada, a seis degraus do apartamento - atirar a pedra de seixo no Velho que mal enxergava, consumando nosso atentado, assim que a porta se abrisse. Ninguém nos veria. Ninguém saberia. Mas nosso inimigo, o Velho Washington, entenderia o recado. 

Mas a História tinha outros planos. Quando a porta se abriu e o seixo certeiro voou da minha mão, este projeto de Bakunin virou um Rasputin castrado pela foice do imponderável. Quem atendeu não foi o Velho, mas a Sra. Washington. 

Com a pedrada naquela testa de 80 anos, ela desabou de costas, em meio a um pico de pressão e uma grave arritmia que poderiam matá-la. Não mataram porque, enquanto eu e Walmir vazávamos feito covardes, Sérgio não apenas socorreu a Velha, como assumiu toda a culpa pelo atentado.            

Foi sempre assim. Eu me metia em bronca, o Sérgio me salvava. Eu pecava, Sérgio pagava o pato. Nosso pai, doutrinador à moda antiga, não perdoava o “cochilo” de irmãos mais velhos, suas sentinelas. Por mais que eu aprontasse – e como aprontava -, eu seria blindado pela bondade e generosidade do Sérgio, diante da intolerância equivocada do papai. Quando o bicho pegava, meu irmão tomava a frente e me salvava, como um bom anjo da guarda.

Até que um dia, ambos já adultos e pais de família. O Sérgio maduro, eu mais ou menos. Ele casado, eu separado. Aconteceu uma emergência. Rodolfo, meu anjo da guarda oficial (o Sérgio é honorário), ligou pro Céu apavorado e aflito:

- Oh, Pai! Desculpe interromper sua Santa paz! É o Silber. E desta vez é grave.

Deus, de cabeça baixa, ajustando a bio do seu perfil no Instagram (“Em um relacionamento sério com a humanidade”), apenas levantou os olhos misericordiosos em direção ao anjo, sem dizer nada. Depois voltou a mexer no iPhone celestial, adicionando milhares de almas penadas à lista de seguidores abençoados – e agora salvos. Rodolfo entrou em pânico:
 
- Senhor! Perdoe-me a blasfêmia! Misericórdia, Pai! O Silber vai fazer uma grande cagada! O que eu faço?

CABRUM!!!!!

Um trovão castigou os ouvidos do anjo atônito. Rodolfo caiu de joelhos, aos prantos. Raios de Sol surgiram às seis da tarde, no horizonte do Rio Guamá. A revoada de papagaios parou no céu, como se os bichos brincassem de estátua. Uma jovem beata flutuou na capela do Colégio Gentil. Os sinos do Colégio do Carmo pareciam ter vida própria. Iemanjá, trajando uma bela túnica azul-claro, foi vista caminhando sobre as águas de Outeiro. Em Marapanim, a estátua do Padre Vale fez o sinal da cruz.

E Deus, em sua infinita bondade e excelsa paciência, antes que tudo voltasse ao normal e fosse esquecido no segundo seguinte, apenas murmurou nos ouvidos de Rodolfo a sagrada ordem:

- Relaxa, meu filho. 

E com a certeza, onipresença e onisciência que só cabem a Deus, seguro da criatura como ninguém além do Criador, ele resolveu a emergência numa frase só: 

- Chama o Sérgio...

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