TBTexto: Memoráveis vilãs, execráveis vilões e o bom e velho neutrox

06/03/2025 18:20
TBTexto: Memoráveis vilãs, execráveis vilões e o bom e velho neutrox

“Uma forma de felicidade é a leitura”. Nosso cronista leva essa frase do Borges muito a sério. Costuma catar leitura onde quer que esteja. Até no banheiro. Dá no que dá. No final, tudo vira devaneio.

Por Paulo Silber

Um amigo me cutuca com um papo pop: quem foi a melhor vilã da TV brasileira? Não sou expert em novelas, mas sempre fui leitor compulsivo. As leituras avulsas estão por todo canto, estampando vilãs, fofocas, bizarrices e outras coisas más.

Por favor, não me julguem. Quem, no desespero, nunca levou uma Contigo pro banheiro? Antes uma Contigo na mão do que o rótulo do Neutrox na cabeça - “O guardião da integridade dos cabelos, que age da raiz até as pontas, por dentro e por fora dos fios”. Sim, era só o que tinha pra ler um dia desses. O mestre André Nunes que era esperto. Tinha sempre um exemplar de “O Príncipe” perto do “trono”.  

Voltando ao fio da meada, esse conhecimento aleatório me permite listar de cabeça ao menos cinco vilãs que já apertaram a mente dos telespectadores tupiniquins: Carminha (Adriana Esteves), Nazaré Tedesco (Renata Sorrah), Odete Roitman (Beatriz Segal), Maria de Fátima (Glória Pires) e Perpétua (Joana Fomm).

Todas elas – e muitas outras – tornaram-se ícones da cultura pop e ainda hoje frequentam a galeria dos memes. Mérito de bons roteiros, de diretores competentes e, principalmente, de talentosas atrizes. De todas, eu gosto mais da Carminha. Mas antes de vê-la, eu tinha um preconceito idiota contra a Adriana Esteves. Sem necessidade. Nem conhecia o trabalho dela.

Peguei corda do Macaco Simão, que adorava agastá-la, chamando-a de Adriana Esteves Aqui e Não Disse ao Que Veio. Desculpem a ignorância do Macaco.

Hoje, Adriana Esteves tem o reconhecimento que merece. Brilhou na TV, no cinema e no teatro. Ganhou prêmios importantes, foi indicada até ao Emmy Internacional.

Arrancou-me gargalhadas no Toma Lá, Dá Cá e rios de lágrimas vivendo a Dalva de Oliveira.

Mas acabei guardando, na gaveta da memória, essa maldade do Simão. Anos depois eu a usaria, pra sacanear o amigo Francisco Weyl, parceiro de redação e dos bares da vida, chamando-o de Chiquinho Não Disse ao que Weyl.

Pois saibam que o Chiquinho levou na esportiva, cagou pra mim e disse ao que veio, sim. Tornou-se um estudioso da comunicação, um inquieto fazedor, um carpinteiro da palavra e das imagens, vencendo prêmios e festivais de cinema e de literatura mundo afora. Parabéns, Chiquinho!

Quanto a mim, ainda gosto de vilões, não vou mentir. Mas só na ficção. Nesse terreno, admito, há desajustados inspiradores. Cheguei a batizar meu carro de Darth Vader da Gama Alves. Compreendi perfeitamente o dilema malthusiano de Thanos. Sofri com a desumanização de Raskolnikov. Senti as dores secretas de Hermógenes. Amei e odiei a busca essencial de Grenouille. E sucumbi ao poder de sedução de Lestat - para citar alguns.

Já os vilões da realidade, esses não prestam mesmo. 

Cruéis, perversos, desumanos, eles se saciam com a dor alheia. Heróis do próprio espelho, são patéticos quando se acham. Quando se escondem, o que hoje é bem comum, aí mesmo é que se apequenam, acreditando que a covardia é uma arte. E seguem adubando o mundo com suas potocas, como diria Carminha.

Então, tô fora desse negócio de vilão. Tá amarrado. Mas também não desejo ser “guardião da integridade”. Me erra, Neutrox!

Agora, se o amigo Chiquinho Não-disse-ao-que-Weyl quiser, se ele me perdoar, se ele me permitir, quem sabe eu posso ser, sei lá... um malvado favorito?

Quem não, né?

*Publicado na Redepará, em 5/5/23

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