Duelos sem fim: J & F x Paper Excellence, a briga de bilhões

Irmãos Batista, os corruptores mais bem sucedidos do Brasil, atacam de novo. Tudo indica que eles encontraram um adversário osso duro de roer. Até ameaça de morte já houve, revela revista.

18/02/2024 07:54
Duelos sem fim: J & F x Paper Excellence, a briga de bilhões

O Pará disputa com os estados do Sudeste e Centro-oeste, a dianteira do agronegócio nacional. Sua vastidão territorial, a diversidade de culturas que podem ser cultivadas em suas terras, somadas a vantagens econômicas como preços do hectare, escoamento, fertilidade e outras questões também vantajosas, atraem interessados de Norte a Sul do país.

A JBS, que era mais conhecida como Friboi, tem atuação na região de Marabá desde quando era um frigorífico regional. O site da empresa destaca a cidade como possuindo unidades de processamento de bovinos e couro da gigante global. 

As regiões Sul e Sudeste paraenses, o Pólo Carajás, reúnem algumas das cidades mais ricas da região amazônica, com renda per capita entre as maiores do país.

Dado o histórico, perfil predador e sem limites dos insaciáveis irmãos Batista, cumpre aos amazônidas em geral e, aos paraenses, particularmente, acompanhar os passos da dupla que quase derrubou um presidente da República, abateu um ex-presidenciável em pleno voo e acusou meio mundo político de estar presente em lista de pagamento de propinas da sua empresa.

É sempre bom lembrar que a matriz do negócio da J&F desmata, emprega mão-de-obra barata e, não raro, recebe benefícios fiscais.

Pelo tamanho, histórico e perfil empresarial, como líder mundial em processamento de proteína animal, o grupo deveria dispor de contrapartida social e ambiental locais, que sempre são bem-vindas, deveriam ser imperativas e sistêmicas em relação a empresas do seu ramo e perfil.

Chuvas de más notícias

Neste chuvoso fevereiro paraense, enquanto o Brasil acompanhou as revelações sobre a suspensão do pagamento da multa de 10,3 bilhões de reais que a J&F celebrou em acordo de leniência, após seus donos, os irmãos Joesley e Wesley Batista, serem pegos com a boca na botija em variados escândalos de corrupção, o poder judiciário voltou aos trabalhos e seguirá julgando outro litígio envolvendo a holding da família goiana.

Agora o imbróglio de bilhões é com a Paper Excellence, empresa que comprou a Eldorado Brasil dos Batista em 2017, negócio que os irmãos tentam desfazer a qualquer custo. Ou seja: o grupo vive um novo round e mais uma polêmica.

A Eldorado Brasil é uma das maiores fabricantes de papel e celulose do país. Na outra ponta, o controlador da Paper Excellence, empresário sino-indonésio Jackson Wijaya, também não tem fama de puritano ou ingênuo. Pelo contrário, coleciona polêmicas mundo afora.

Briga de cachorro grande

Naquela que classificou em sua chamada de capa como a atual “maior disputa corporativa do Brasil”, a revista piauí, edição de fevereiro, traz matéria assinada pelo repórter Breno Pires, que traça detalhado panorama da nova encrenca em que os dois bilionários brasileiros campeões em matéria de confusão estão metidos até o pescoço.

Em 2017, Jackson Wijaya, herdeiro do Sinar Mas, “um dos grandes conglomerados empresariais do Sudeste Asiático”, segundo a revista, aceitou pagar 15 bilhões de reais pela Eldorado Brasil.

Até aí foram cumpridas as formalidades e, como manda o figurino às empresas de capital aberto, em setembro daquele ano foi divulgado um comunicado conjunto falando da transação, ainda que a troca total de comando somente acontecesse um ano depois.

Ocorre que, no mesmo período da transação, foram divulgadas gravações pelo então procurador-geral da República Rodrigo Janot, que resultariam no pedido de prisão de Joesley Batista, onde permaneceria por seis meses.

E mais, como todo mundo está cansado de saber, as investigações culminariam na revelação dos grampos contra o presidente Michel Temer e o senador Aécio Neves, e parariam a república, quase originando em mais um processo de impeachment.

J&F x Paper Excellence

Um ano depois do comunicado de 2017, teve início a disputa judicial entre os dois grupos. A razão para tanto, foi o arrependimento dos Batista com o preço da venda, que passaram a considerar abaixo do valor da gigante.

Nesses mais de cinco anos do início do litígio, revela a matéria, houve acusações de espionagem cibernética, ameaça de morte, golpes e contragolpes, orgulho, ganância, entre outros ardis de ambos os lados.

Pelo tamanho e complexidade, a operação foi dividida em três etapas. Quanto mais afunilava o prazo, maior era a sensação de má vontade e arrependimento dos donos da J&F.

Resumo da ópera

Após comunicado oficial sobre rompimento entre as partes, audiência de conciliação sem acordo, reunião em Los Angeles, pedido para revisão de valores e agravamento da crise, a questão chegou a uma câmara arbitral.

A Paper Excellence alega que os Batista se arrependeram da venda da Eldorado, dada a sua valorização, passando a inventar sucessivas exigências de modo que a venda ficasse inviabilizada. Os brasileiros dizem que cooperaram no que puderam, mas os indonésios descumpriram o prazo.

Após travada a guerra em âmbito arbitral, e mais uma derrota dos Batista, bem como depois de perderem na justiça de São Paulo e no STF, eles não desistiram de retomar a Eldorado.

Briga no campo

A luta jurídica deles agora é relacionada a uma hipotética proibição que impediria a Paper Excellence de comprar a Eldorado Brasil. Tese esta fundamentada em razões agrárias, e relativas aos cerca de 285 mil hectares dos quais ela se tornaria arrendatária com a compra da empresa dos Batista.

Tentativa de mudança na lei sobre arbitragem, tráfico de influência, troca de acusações, jogo sujo, litigância de má fé; tudo isso somado à contratação de ministro aposentado do STF, de esposa de ministro da Corte, entre outras manobras e artimanhas jurídicas, estão em jogo na luta dos Batista para melar a venda da empresa.

Insegurança Brasil

No processo de desinvestimento da J&F, após a avalanche de 2017, os Batista passaram adiante a Laticínios Vigor e a Alpargatas, fabricante das sandálias Havaianas. Em ambos os casos não tentaram melar os acordos.

Bem diferente da questão envolvendo a Eldorado Brasil, que se arrasta desde 2017, e mostra que a justificada insegurança jurídica brasileira - um dos gargalos nacionais que inibem os investimentos externos -, nem sempre é de responsabilidade só dos governos de plantão.

O caso da venda da Eldorado é um (mau) exemplo acabado de capitalistas predatórios que só cumprem as regras do jogo quando estas lhes favorecem.

Lula voltou

De “Campeões Nacionais”, esses Batista são mesmo é da cara de pau. Do atrevimento e sem-cerimônia no campo do “vale tudo” e desrespeito aos contratos.

Com eles dando as cartas, a chance de se crer em limites ou compliance institucional do conglomerado é próxima de zero.

Os próximos rounds do duelo J&F x Paper Excellence no judiciário prometem.

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